Sr. Governdor: não precisa o ferry-boat pegar fogo. Com esse fumaceiro no navio, basta algum passageiro embarcado e nervoso gritar que “tem incêndio”, para o pânico se estabelecer e a tragédia ocorrer.
REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
O Sistema Ferry-boat continua sendo o assunto mais comentado e noticiado na Bahia desde o início desta semana. Na verdade, durante o ano inteiro ou, se preferirem, há uma década vem sendo assim. O caos está definitivamente estabelecido no sistema, administrado por essa péssima Internacional Travessias, empresa que o Governo da Bahia foi buscar no Maranhão. Empresa que o governo não fiscaliaza e nem regula, como está explícito no contrato de concessão.
O desembarque da Internacional na Bahia é de responsabilidade total do então governador Jaques Wagner e do hoje seu colega no Senado, o médico ortopedista Otto Alencar, na época secretário de Infraestrutura do Estado. Os dois nem de longe sabiam o que era e nem como funcionava o negócio. Wagner e Otto não se preocuparam nem um pouco em conhecer melhor a complexidade do serviço, responsável pelo transporte de milhares de vidas, anualmente.
Sequer Wagner e Otto foram a São Paulo ou mandaram alguém lá para saber como a empresa, a Internacional, atuava na Travessia Santos-Guarujá, onde já tinha a fama de ser “horrorosa”.
Operar com apenas três embarcações hoje já diz tudo ou quase tudo, de um sistema que vem sendo degradado e escancaradamente sucateado desde que a Internacional Marítima assumiu o seu controle em 2012. Para se ter ideia do que isso representa, no ano de 1998, dois anos após o governo concedor o serviço à iniciativa privada, o Sistema Ferry-boat operava com oito embarcações.
Vejam bem, caros leitores: estamos falando de 1998 e já estamos em 2022. Só para lembrar, o Sistema Ferry-boat foi privatizado em1996, na gestão de Paulo Souto. O Comab (Consórcio Marítimo da Bahia) foi quem assumiu a Travessia Salvador-Bom Despacho, substituindo a estatal Companhia de Navegação Baiana. O sucateamento da frota, do patrimônio público, começou pra valer no primeiro governo Wagner em 2007 e ganhou essa proporção vergonhosa de hoje nas duas gestões de Rui Costa.
Até 2006, a frota ainda era de oito embarcações, mas a partir daí o sistema entrou em decadência. Com a saída do consórcio Comab, assumiu o sistema a concessionária TWB, motivo também de muitas reclamações pelos usuários, também pelos péssimos serviços que prestava.
Mas se comparando à Internacional de hoje, a TWB parecia muito melhor. Pelo menos ainda investiu no sistema, com a incorporação dos ferries Ivete Sangalo e Ana Nery. A Internacional não investiu um centavo sequer na frota do sistema. Mas, como a TWB não servia, o Governo Wagner resolveu intervir e trazer do Maranhão uma empresa sem nenhuma qualificação para assumir um serviço tão essencial para a população de Salvador, da Ilha de Itaparica e de dezenas de municípios do Recôncavo baiano.
Batizada na Bahia de Internacional Travessias, a companhia atuava no Maranhão dos Sarneys. Seu proprietário era sócio de Jorge Murad em negócios nebulosos do setor hoteleiro. Murad era casado com Roseane Sarney. Foi assim que os empolgados Wagner e Otto Alencar foram atrás da Internacional, trazendo-a para assumir o Sistema Ferry-boat.
E o resultado é este que a Bahia assiste estarrecida, agora: navios completamente sucateados, soltando fumaça por todos os lados, filas intermináveis e sofrimento. E sofrimento. Muito sofrimento para milhares de pessoas que precisam se deslocar diariamente da Ilha de Itaparica para Salvador e vice-versa. Isso para não se falar do estado deplorável dos terminais, totalmente abandonados pela concessionária, com sanitários imundo e que envergonham aos baianos e visitantes.
E o que é muito grave: apesar de ser um serviço concedido pelo Estado da Bahia por intermináveis 25 anos, o Sistema Ferry-boat sequer é fiscalizado. Isto mesmo: deveria ser rigorosamente regulado e fiscalizado, mas não é, pois o órgão do Governo da Bahia que tem essa atribuição, a Agerba, faz vista grossa e deixa a companhia atuar como quer e entende.
A Agerba também é um órgão, justiça seja feita, sem comentários, com atuação abaixo da crítica, que não está nem aí para os direitos do cidadão. Talvez seja o maior cabide de emprego da estrutura do governo da Bahia. É controlada por dois senadores: Ângelo Coronel e, para não esquecer, Otto Alencar. Precisa mais? Quem preside a agência é o irmão de Ângelo Coronel, Carlos Henrique de Aevedo Martins, mas Otto Alencar tem o controle de grande parte dos cargos em comissão e, no geral, das atividades da agência..
O caos no Sistema Ferry-boat é a prova maior para comprovar essa crise sem precedentes em que o serviço está envolvido desde que passou a ser administrado pela Internacional Travessias, no segundo semestre de 2012.
Dizem que a Agerba multa e não recebe a multa. E mais: mesmo que o Sistema Ferry-boat não fosse um serviço concedido pelo Estado da Bahia, seria responsabilidade total do governo, sim, atuar em favor do cidadão.
E o Ministério Público, onde está o MP-BA?
E onde está o Ministério Público da Bahia? Será que o MP-BA não vem acompanhando o caos no sistema ferry-boat, que já dura uma década? Será que o MP-BA desconhece a situação caótica do Sistema Ferry-boat amplamente divulgada pela imprensa durante toda esta semana?
É incrível, mas o MP-BA até agora não se pronunciou.
Também custa acreditar no silêncio do Governo da Bahia, que parece apostar no pior. Será que o Governo do Estado da Bahia, o poder concedente desconhece que o Sistema Ferry-boat transporta vidas humanas? O governador Rui Costa está esperando o que mesmo para decretar a intervenção no sistema? Vai continuar apostando no caos?