REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Apesar de o Governo do Estado ter anunciado diversas vezes que o ferryboat “Ipuaçu” seria totalmente reformado e que inclusive tinha adquirido dois novos motores para a embarcação, o navio, na verdade vai ser cortado e vendido como ferro velho. O “Ipuaçu” estava há quase dois anos parado junto a uma gaveta de atracação do Terminal de Bom Despacho. Em inúmeras matérias, o JORNAL DA MÍDIA mostrou que o navio estava fazendo água devido a um rombo no casco.
A última vez que o “Ipuaçu” foi visto em Bom Despacho foi em janeiro deste ano. Depois, a embarcação desapareceu do terminal e foi encontrada agora na Marina de Aratu, encostada no ferry “Monte Serrat”, que o governo também deixou apodrecer e que terá a mesma sorte do ”Ipuaçu”: será vendido como ferro velho. Em 2011, o governo tinha dado o mesmo destino ao ferry “Gal Costa”, vendido por apenas R$ 50 mil (cinquenta mil) como sucata. Isto só faz comprovar que cuidar do patrimônio público nunca foi preocupação do Governo da Bahia.
O governador Wagner, que tanto criticou Paulo Souto por ter deixado dois ferries apodrecerem, também vai ficar na história do sucateamento do sistema ferryboat. O navio “Ipuaçu” foi abandonado há três anos, no governo atual, portanto. A falta de fiscalização e a negligência foram determinantes.
Conversa Fiada – Em outubro de 2012, o secretário de Infraestrutura, Otto Alencar, garantiu: “A Seinfra já adquiriu dois motores novos e esse ferry, como os demais que foram sucateados pela TWB, será reformado”.
Pouco tempo depois, em 6 de novembro de 2012, no período de intervenção do Estado na TWB, o diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, foi ainda mais taxativo em entrevista concedida ao JORNAL DA MÍDIA:
E o ferry “Ipuaçu”, desativado há mais de dois anos pela TWB, não vai ser reformado?
“Foi feita uma avaliação, um diagnóstico completo do navio. Mas este investimento na reforma do “Ipuaçu” será feito pelo futuro concessionário. Não existe tempo agora para fazer o trabalho. O barco vai exigir mais tempo. O Estado comprou motores para esse navio, mas a TWB colocou em outro. Mas não existe problema para a reforma dessa embarcação”.
É muita grana no lixo – Pelo que sustentou Pessoa, quem iria reformar o “Ipuaçu” seria a empresa Internacional Marítima, contratada para “recuperar” e “reformar” todas as embarcações. A Internacional também foi convocada pelo estado para assumir “emergencialmente”, por seis meses, as operações do sistema ferryboat.
Na “reforma” e “recuperação” dos navios o Estado desembolsou R$ 40 milhões. Todas as embarcações atendidas voltaram a quebrar, inclusive o “Pinheiro”, que retornou à Base Naval de Aratu para serviços no sistema de propulsão (motores), que segundo garantiram a Agerba e a concessionária tinha sido totalmente substituído na primeira “reforma”.
O sistema ferryboat se arrasta. Mesmo agora com uma frota de sete embarcações, depois que o “Ipuaçu” foi condenado pelos “técnicos especializados”, somente dois ou três operam. E de forma precária. Os navios “reformados”, como o “Rio Paraguaçu”, quebram constantemente. Este aliás, já tem mais de três meses parado em Bom Despacho e internamente está desmontado. As queixas contra a Internacional Marítima são constantes e os protestos de usuários nos terminais cada vez mais frequentes.
Sucatear é fácil – Há duas semanas, a operadora Internacional Marítima demitiu um chefe de máquinas do ferry “Pinheiro”. O ferry estava na Base reparando os motores recauchutados e colocados na embarcação como novos. O motivo da demissão: o operário, de nome Júlio Celestino Garcia, se recusou a colocar peças estragadas ou recuperadas em oficinas da Suburbana e da San Martin.
“Eles (a Internacional) obrigam o operário a armengar as embarcações, que são reparadas e com pouco tempo voltam a quebrar. Não aceitei colocar uma peça diferente da que pedi e me mandaram embora”, contou Júlio, por telefone, ao JM. “O que estão fazendo nos navios é um absurdo, parece coisa encomendada, para quebrar mesmo. O ferry “Pinheiro”, apesar de ser um dos mais antigos, tem o melhor casco de todos. Mas estão acabando com tudo com os serviços de terceira categoria que essa empresa quer fazer para economizar. O governo não faz nada”.
E O Ministério Público? – O Ministério Público da Bahia tinha garantido que iria acompanhar a reforma de todas as embarcações e inclusive divulgar a forma como o dinheiro público estava sendo aplicado. Desde outubro, quando os navios começaram a ser docados na Base, nada foi divulgado. No site “Transparência Bahia”, do governo, existem pagamentos repassados para os serviços nos ferries. Somente a Lumar, empresa da Bahia, foi contemplada com mais de R$ 5 milhões por serviços de consultoria.
O contrato emergencial da Internacional Marítima acaba em setembro. O governo garante que vai fazer uma licitação para a nova concessão do sistema ferryboat.