O usuário do sistema ferryboat é quem está pagando caro pela verdadeira ”herança maldita” deixada pela concessionária paulista TWB, que sofreu intervenção do Estado. A empresa deixou os navios completamente sucateados e com apenas três em condições de tráfego, mesmo assim operando precariamente. Resultado: mais de cinco horas de espera na fila para quem tentou fazer a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica.
Apesar dos esforços da equipe da Agerba para manter os três navios operando, às vezes é impossível. Isto porque, por falta de manutenção, as embarcações não resistem muito tempo em tráfego e quebram. Foi o que aconteceu com o “Ivete Sangalo”, que teve que ser retirado de tráfego anteontem.
E também com o dose-dupla “Juracy Magalhães”. Este por um problema de estabilidade. Com a ”reforma” feita pela TWB, o navio voltou a operar em abril do ano passado sem as condições ideais. Em períodos de mar agitado e ventos fortes, como vem acontecendo nos últimos dias em Salvador, o “Juracy” não consegue atracar em Bom Despacho.
O erro absurdo de projeto cometido na TWB foi denunciado dia 2 de maio de 2011 pelo JORNAL DA MÍDIA. Ao promover modificações no ferryboat “Juracy Magalhães Jr.”, a TWB deixou o comandante da embarcação completamente “cego” para realizar com segurança as manobras de atracação. E mais: o lastro do navio recebeu nada menos que 110 toneladas de pedras.
O ferry “Juracy” levou nada menos que 18 meses para ser reformado pela TWB e Agerba (Agência de Regulação da Bahia), na época, não fiscalizou os serviços. Com as mudanças feitas no projeto original desse navio, a cabine de comando ficou menor devido à construção de um convés novo de passageiros na parte superior da embarcação. Com a cabine de comando menor, o comandante deixou de enxergar a proa e a popa e perdeu também a visibilidade do boreste (lado direito) e do bombordo (lado esquerdo) da embarcação.
As 110 toneladas de pedras (paralelepípedos) no lastro da embarcação tem o objetivo de promover o ”equilíbrio” e a ”estabilidade”.
Problemas vão continuar – É bom que o usuário do sistema ferryboat fique atento e se prepare, pois os problemas operacionais não vão acabar logo. Com dois ou três ferries funcionando, é impossível o atendimento da demanda sem que ocorram atrasos. A Agerba, que na verdade não tem culpa porque a situação dos navios é verdadeiramente caótica, tem que saber passar para a opinião pública o quadro real.
Não pode apenas a agência dizer que vai docar dois navios na Base Naval de Aratu, como fez ontem em uma nota de apenas duas linhas, sem divulgar detalhes, como a situação em que as embarcações se encontram, o prazo de duração da docagem, o gasto que o Estado terá que ter por conta do sucateamento e os serviços que serão realizados. Não se cobra aqui dos interventores conhecimento profundo do sistema ferryboat. Mas pelo menos eles devem ter sensibilidade para a importância do sistema, que na verdade é um transporte de massa.
E mais: a Agerba tem que pedir mesmo paciência ao usuário, de forma clara, transparente. Não tem outro jeito. Vamos divulgar um boletim diário, Agerba, dirigido aos usuários. É uma coisa simples, sem custo. A internet está aí, vamos utilizar as redes sociais. Nesse momento difícil é imprescindível que a opinião pública seja informada com precisão e eficiência. Do contrário, em pouco tempo o povo vai cobrar do governo e vai jogar a culpa toda na agência de regulação.
E o dono da TWB, o Pinto dos Santos, vai ficar lá do Guarujá tirando onda e dando risada pelo dinheiro que caiu em sua conta nos últimos sete anos. Aliás, o secretário Otto Alencar prometeu presentear o Pinto com uma algema e não cumpriu. Era assim que ele devia ter saído da Bahia: algemado.