Dirigentes do PMDB afirmaram que o partido foi constrangido a assinar a nota, articulada pelo PT, na qual cinco legendas da base aliada defenderam o ex-presidente Lula e acusaram a oposição de tentativa de golpe. O PP e o PR não foram procurados para assinar a “Carta à sociedade”, mas desaprovaram o teor.
Segundo peemedebistas, o presidente do PT, Rui Falcão, teria chegado com a nota pronta, e já assinada por outros partidos aliados, deixando o presidente do PMDB, Valdir Raupp, numa saia justa. Depois de chancelar o documento, Raupp avisou o vice-presidente Michel Temer e disse que não teve como não assinar uma nota de solidariedade a Lula. Lideranças do PMDB, além de desaprovarem o texto, alegam que não foram consultados sobre o apoio.
O tom da nota foi considerado “péssimo” pelo PMDB e fora de sintonia com o momento atual do país, principalmente a parte em que acusa a oposição de práticas golpistas. Esse trecho causou estranheza em dirigentes peemedebistas, já que, de acordo com eles, o Brasil tem uma democracia consolidada e um governo sólido.
— É claro que seríamos solidários ao Lula, mas sem atacar, sem radicalismos. Faríamos de uma forma mais peemedebista — disse um integrante do partido.
A ideia da nota teria sido levantada pela primeira vez no domingo passado, em conversa entre Lula, Rui Falcão e o governador Eduardo Campos (PE), presidente do PSB, em almoço no Centro de Tradições Nordestinas, em São Paulo. Na ocasião, Lula reclamou da matéria da “Veja”.
Na terça-feira, Falcão telefonou para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, e o consultou sobre a ideia da nota. O presidente do PT enviou então uma primeira versão do texto para o socialista, que reescreveu e fez uma segunda versão.
Falcão procurou então Raupp e o PRB do candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomano, enquanto Amaral conversou com Eduardo Campos, com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e com o do PDT, Carlos Lupi.
Presidente do PTB e delator do mensalão, Roberto Jefferson criticou o PT pela nota e afirmou que o documento deixa antever a disputa por espaço, em 2014, entre os aliados do governo.
— A briga por 2014 está tão feia que os ditos aliados estão disputando espaço até mesmo em uma mequetrefe notinha — disse ele. — Na verdade, o PT tinha que agradecer aos céus pela oposição que tem. Se fosse apenas um pouco parecida com o PT do passado, que usava e abusava da calúnia, da difamação e da denúncia, Lula não tinha deitado e rolado depois do escândalo do mensalão.
Na noite de sexta-feira, os pedetistas Critovam Buarque, Pedro Taques e José Antonio Reguffe pediram esclarecimentos ao presidente do partido, Carlos Lupi. Eles dizem que foi “com surpresa” que tomaram conhecimento pela mídia “de uma nota que você assinou em nome do nosso partido (PDT)”.
“Gostariamos de ter sido consultados antes desta nota assinada em nosso nome, porque se tivéssemos sido consultados seríamos contra. 1. Porque não vemos gesto golpista por trás das falas e matérias. Além de ser um direito inerente às oposiç?es fazerem críticas, em nenhum momento tocaram na Presidenta Dilma. Consideramos mais ameaçadores à democracia as consequências dos imensos gastos publicitários feitos pelos governos. 2. As referências à press?es sobre os ministros do STF passam imagem de desrespeito ao poder judiciário, que nesse momento vem desempenhando um importante trabalho, reconhecido pela opinião pública como decisivo na luta pela ética na politica. Mais importante seria mudar o sistema de escolha dos futuros ministros, para que não pesem dúvidas sobre a independência de cada um dele”. (O Globo)