Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estão preocupados com o ritmo de julgamento do processo do mensalão. Temem que ele só seja concluído após a aposentadoria do presidente da Corte, Ayres Britto, em 17 de novembro. Com exceção do relator, Joaquim Barbosa, e do revisor, Ricardo Lewandowski, os ministros já se convenceram da necessidade de diminuir o tempo de seus votos, e têm levado no máximo duas horas para se pronunciar sobre cada capítulo. Alguns integrantes do STF reclamam que Lewandowski deveria encurtar suas intervenções, especialmente em temas nos quais concorda com o relator.
— Quem não pode resumir aqui é o relator. O revisor, só se for para divergir. Se for para acompanhar o relator, deveria resumir. Não tenho mais esperança de término do julgamento em outubro. Quando houve essa mudança de concepção (sobre o tamanho dos votos dos ministros), imaginei que terminaria no final de setembro. Mas, hoje, já receio que o ministro Ayres Britto não será o presidente na proclamação do veredicto — disse Marco Aurélio Mello.
O ministro, que está no tribunal há mais de duas décadas, lembra que, antigamente, a praxe era os ministros votarem de improviso. Agora, todos leem votos longos. Ele revelou que, no mensalão, tem votado de improviso:
— Na velha guarda, o relator levava um voto escrito, e os demais votavam de improviso. Agora, não sei qual o milagre que acontece, porque eu não tenho tempo de cuidar nem dos meus processos, mas cada qual leva um voto como se fosse o relator. A sessão fica enfadonha. A turma que chegou talvez sinta necessidade de mostrar serviço. Não estou criticando ninguém, mas precisamos conciliar celeridade e conteúdo.
Um outro integrante da Corte afirma que a celeridade do julgamento depende de Lewandowski. Esse ministro concorda que o revisor deveria resumir seus pontos de vista, especialmente quando segue o relator. A interlocutores, Ayres Britto afirma estar esperançoso sobre o fim do julgamento em meados de outubro. E que, se avançar novembro adentro, não ficará insatisfeito por não proclamar o resultado. Barbosa, que vai suceder Ayres Britto na presidência, nutre esperança de ouvir a proclamação da boca do colega.(Carolina Brígido e Evandro Éboli/O Globo)