O Governo da Bahia, através da Agerba, tentou fazer uma intervenção na concessionária paulista TWB, há 40 dias, e por pouco neste Verão o sistema ferryboat não estaria sendo operado por outra empresa.
A intervenção foi toda preparada pela Agerba (Agência de Regulação da Bahia), que já tinha até acertado a contratação da empresa que iria assumir a travessia entre Salvador e Bom Despacho. Era a Internacional Marítima, empresa que tem sede em São Luís, no Maranhão, mas que opera também a travessia de balsa entre Santos e Guarujá, no Litoral paulista.
O JORNAL DA MÍDIA tentou contato com a Internacional Marítima, inicialmente, na sede da empresa, em São Luís, e foi informado, através de uma funcionária, que quem fez os entendimentos com a Agerba foi o diretor de nome “Cleber”, responsável pela área comercial da filial da empresa, em Guarujá (SP). Apesar de diversas tentativas, o Cleber, que não é o mesmo que trouxe a TWB para a Bahia, não retornou as ligações.
Além da travessia Santos-Guarujá, a Internacional opera a linha marítima São Luís-Cojupe, no Maranhão, utilizando como equipamentos ferryboats com capacidade para 50 carros e 600 passageiros. Ao contrário da TWB, a empresa do Maranhão conta em sua frota com várias embarcações, algumas com características idênticas aos navios que operam a travessa Salvador-Bom Despacho.
Vale lembrar que a Internacional Marítima tomou justamente o lugar da TWB na exploração da travessia paulista Santos-Guarujá. A operadora do sistema ferryboat da Bahia foi simplesmente expulsa de São Paulo, onde tem sede, pelos péssimos serviços que prestava por lá.
Na Santos-Guarujá, a Internacional Marítima é uma terceirizada do Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S.A, do Governo de São Paulo, e seria nessa mesma condição que viria para a Bahia, até que o Governo do Estado promovesse uma nova licitação da travessia Salvador-Bom Despacho.
Otto Alencar Aborta – Para decretar a intervenção na TWB, a Agerba contava, além do fabuloso histórico negativo da empresa paulista, com o respaldo do relatório preliminar da consultoria Fipecafi, de São Paulo, que fulmina completamente a TWB, apontando um verdadeiro mar de irregularidades praticadas pela empresa desde que ela aportou na Bahia, em 2005. O relatório seria divulgado juntamente com o anúncio da contratação da Internacional Marítima. Paralelamente, a agência de regulação fez um diagnóstico completo da TWB, com levantamento do número de funcionários, salários, cargos, entre outros.
No final do mês de novembro, técnicos ou diretores da Internacional estiveram nos terminais de São Joaquim e Bom Despacho para conhecer as instalações do sistema ferryboat. Depois, se reuniram com dirigentes da Agerba, no CAB, e em seguida com o secretário Otto Alencar, na Seinfra. No dia 11 de novembro, o diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, disse em entrevista à Rádio Band News que já tinha recebido o relatório da Fipecafi e que diveria ser divulgado quatro dias depois.
O relatório foi entregue a Otto Alencar, que, a exemplo de Pessoa, teria ficado estarrecido com a situação caótica da TWB e do sistema ferryboat. O relatório foi engavetado, mesmo o Estado tendo gasto a bagatela de R$ 600 mil, sem licitação pública, com a Fipecafi. Mas a TWB soube qual era a verdadeira intenção da Agerba, se mobilizou e conseguiu sobreviver.
Informações chegadas ao JORNAL DA MÍDIA procedentes de fontes seguríssimas da Agerba e da Seinfra apontam que a intervenção na TWB foi abortada pelo secretário de Infraestrutura e vice-governador Otto Alencar. Ele teria argumentado que seria melhor esperar o Verão passar.
A decisão de Alencar teve efeito de um balde de água gelada despejado na cabeça de Eduardo Pessoa, diretor-executivo da Agerba, que nunca negou para ninguém que a TWB não tinha mais a menor condição de continuar explorando o sistema ferryboat. É de Pessoa algumas declarações bombásticas contra a empresa das três letrinhas divulgadas na imprensa:
“A TWB parece não transportar vidas humanas…Esta empresa não é séria, não tem compromisso nenhum…”
Hoje, as coisas mudaram um pouco. Eduardo Pessoa já sai até para jantar ou tomar um wisky com Pinto dos Santos, essa ”figura fantástica” que aportou na Bahia com as benesses do governo, que variam de acordo com a estação. Antes, Pinto só se entendia com o secretário Otto e fazia questão de dizer isso à imprensa, através de um porta-voz. Hoje, o dono da TWB flutua como uma pluma e com a mesma desenvoltura de antes nos gabinetes agerbianos.
Fala-se que Alencar não se bate muito bem com Pessoa, que está na Agerba por indicação do secretário da Fazenda, Carlos Martins, com o respaldo e apoio total das empresas de ônibus do sistema intermunicipal de transportes. O sonho de Otto seria expurgar Pessoa e colocar Ivan Barbosa no posto de dirigente máximo da Agerba. Barbosa, que ocupa a diretoria de Transportes da Seinfra, é amigão de Otto e mais ainda do deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), de quem foi secretário de Transportes na Prefeitura. O ex-prefeito de Salvador, por coincidência ou não, está processando Eduardo Pessoa por negligenciar na questão da TWB.
Político habilidoso mas sem qualquer conhecimento sobre as operações do ferryboat, o médico ortopedista Otto Alencar chamou a atenção de quem acompanha a trajetória pífia da TWB na Bahia por declarações conflitantes e até descabidas sobre a empresa paulista. Foi ele quem considerou, entre outras coisas, ”sem qualquer fundamento” a denúncia do JORNAL DA MÍDIA, com base em inquérito da polícia, que a TWB tinha vendido carros do Estado na Ilha do Rato, um mercado clandestino de venda de carros usados em São Joaquim.
Os carros foram retomados pela Agerba dias depois – todos sem motores e imprestáveis. Foi também o vice-governador que também tentou desmentir o JM ao afirmar que a TWB não encalhava navios nos manguezais ou na praia para fazer ”manutenção”. E aqui registramos os ”eventos” da TWB através de inúmeras fotos e que eram desconhecidos pela Seinfra e pela Agerba. E por aí vai.