REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Com o Governo do Estado a apresentar um histórico de boicote à mídia independente e ameaças à liberdade de imprensa, será que o Conselho de Comunicação Social do Estado, instalado terça-feira (10), vai realmente democratizar o acesso da população à comunicação ou vai servir de instrumento para o governo Wagner aprofundar a dominação sobre os meios de comunicação na Bahia?
Com 27 membros, o CCS é subordinado ao Governo do Estado, que conta com 7 representantes no conselho. Além disso, parte do CSS é formado por representantes de entidades aparelhadas por partidos governistas e outros dependem da publicidade oficial. Enfim, o Estado e órgãos simpáticos ao oficialismo, ou dependentes dele, formam a maioria dos votos do colegiado.
O que o CCS fará já é previsível. Durante a posse dos 27 membros, as declarações de autoridades estaduais revelaram que, na prática, a teoria do que afirmaram é outra.
Diante do espocar dos flashes e das câmeras de TV, o governador Jaques Wagner falou de democracia, do direito da sociedade à informação e garantiu que não pretende controlar a imprensa. Seu fiel escudeiro, o secretário de Comunicação, Robinson Almeida, falou efusivamente: “Nosso objetivo é democratizar o acesso à comunicação”.
Enquanto para a plateia eles diziam uma coisa, no recesso dos gabinetes refrigerados do governo do Estado o que se trama é outra totalmente oposta.
Longe dos olhos da sociedade e manipulando sinistra sombra que tenta ocultar o plano vigente de dominação da mídia, o governo da Bahia age com truculência e pune órgãos de comunicação independentes, bloqueando-lhes o acesso à publicidade oficial.
Ao mesmo tempo, irriga com desenvoltura o caixa da mídia chapa-branca que aceita escamotear a verdade, calar-se diante de irregularidades, censurar críticos do governo e promover factóides de interesse do Estado.
O governo da Bahia age com truculência e pune órgãos de comunicação independentes, bloqueando-lhes o acesso à publicidade oficial
Pressão e censura
Os casos envolvendo o uso de dinheiro público para controlar a mídia são evidentes. O radialista Mário Kertész disse, na Rádio Metrópole, a propósito da instalação do CCS: “É preciso que o Conselho, se for para valer, aprofunde e descubra os meandros da distribuição da verba da publicidade oficial”.
Kertész lembrou que o Estado reduziu as inserções publicitárias na emissora devido a críticas feitas ao governo. “Espero que (o CCS) ajude na distribuição da publicidade oficial e não obedeça nenhum caráter de interesse político partidário como acontece hoje no Governo da Bahia”, completou.
Recentemente, o deputado Targino Machado denunciou ter sido censurado na Rádio Povo AM, de Feira de Santana, após criticar atos do governo Wagner. O parlamentar teve sua fala interrompida três vezes seguidas durante entrevista ao programa “Jornal das Oito”, da emissora feirense, até que o programa fosse finalmente retirado do ar.
“Isso se deve ao fato das constantes ameaças do secretário de Comunicação, Robinson Almeida, e do líder de governo na Assembleia Legislativa da Bahia, deputado estadual José Neto, em retirar dos veículos de comunicação de Feira de Santana as verbas publicitárias do governo, caso insistam em fazer críticas ao governo”, explicou Machado.
O parlamentar foi taxativo: “O governo do PT age como se o dinheiro do Estado, fruto do pagamento dos altos impostos a que está submetida à população baiana, fosse bem particular. Isso é tirania e assim nascem as ditaduras”.
Outro parlamentar, o radialista Carlos Geilson, do PTN, denunciou na tribuna da Assembleia Legislativa da Bahia que foi perseguido pelo secretário estadual de Comunicação e obrigado a deixar a Rádio Subaé, onde trabalhava há 26 anos, por criticar o governo Wagner.
Em novembro passado, Glauco Wanderley, da Rádio Subaé AM, denunciou em sua página pessoal no Facebook, que o líder do governo na Assembleia Legislativa, José Neto (PT), havia ameaçado cortar os anúncios governamentais na rádio apenas porque o radialista deixou de anunciar durante o programa que comanda, “Subaé Notícias”, um seminário sobre rádio comunitária que era apoiado pelo petista.
A pressão contra a mídia é evidente. Resta saber se o CCS vai pôr um fim à intimidação ou vai chancelar a ação do Estado contra a liberdade de imprensa.
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