Uma ação absurda, um crime ambiental cometido e sem nenhuma providência até agora da Prefeitura de Salvador.
A destruição de uma uma mangueira secular na Rua Castro Neves, no bairro de Matatu de Brotas, chamou a atenção de moradores do local. Menos da Prefeitura de Salvador. Acreditem: informações chegadas ao Jornal da Mídia indicam que prepostos da Sedur acionados foram ao local, mas teriam “aprovado” um parecer não elaborado por técnicos da Sedur, mas por uma empresa privada, indicando que a árvore precisava ser sacrificada e que representava um “perigo para a segurança dos moradores”.
Depois que as motosserras contratadas pela gestão do condomínio botaram a frondosa mangueira quase que totalmente abaixo, contatou-se – que nenhum tronco sequer estava apodrecido. A Sedur recebeu a denúncia e, dizem, nenhuma providência foi adotada
O bom senso recomenda que a gestão do condomínio, que contratou e pagou para fornecer um laudo técnico e pelo serviço de destruir a árvore, suspenda imediatamente a ação, pois o estado atual da árvore, só com troncos e algumas frutas, indica que ela pode voltar a brotar.
Várias fotos e vídeos publicados nas redes sociais foram enviadas para o órgão “fiscalizador” da Prefeitura de Salvador, a Sedur. Resultado zero. A Secretaria de Comunicação Social do prefeito Bruno Reis também recebeu fotos e vídeos mas até o fechamento desta matéria, às 21h10, não havia se manifestado.
Confiram abaixo artigos de Celuta Vieira, moradora do Edifício Diana, e de Maurício Sampaio, que passou infância e toda a juventude no condomínio convivendo com as mangueiras e outras árvores que existiam no local:
MAURÍCIO SAMPAIO
Desde que a minha família foi morar no Edifício Diana, no início dos anos 80, ela estava lá. Uma imensa mangueira que privilegiava a área da garagem do prédio com uma grande área sombreada. Nós a chamávamos de “árvore gorda” . Cresci acordando com o canto de passarinhos e por vezes famílias de mico-estrela nos faziam uma visita. Alguns amigos mais corajosos a escalavam.
Ela chegou até a altura do quinto andar. Quando a árvore dava frutos, era um espetáculo à parte. Sempre duas vezes ao ano, coincidindo com as férias escolares. Eu e as crianças qundo mangas. Ne cresceram ali tivemos o privilégio de passar os dias de férias brincando naquela área e cataão precisava nem parar na hora do lanche, pois estávamos sempre alimentados.
Naqueles períodos, a mangueira atraía a atenção da vizinhança. Sempre aparecia alguém que não era morador com um saco na mão e em pouco tempo ia embora com o saco carregado de mangas. Desde a época, percebíamos que alguns moradores já se incomodavam com a “sujeira” que as mangas causavam na área da garagem neste período em que ela frutificava.
O tempo passou, a estrutura de muitas famílias mudou, mas ela continuava lá do mesmo jeito. Repleta de pássaros e frutificando. Na última semana, para a surpresa dos que passam no prédio apenas de visita, a árvore estava sendo cortada. Troncos e mais troncos no chão. Ninhos de pássaros e muitas mangas novas presas aos galhos. Todo um bioma secular indo embora em questão de horas.
Aos olhos de quem está no local e inúmeras fotos e vídeos tiradas pelos vizinhos, o que chama atenção é que a mesma não apresenta nenhum sinal de estar podre ou oca. Está com troncos saudáveis. Por isso pedimos uma revisão do laudo que emitido por órgão da prefeitura, com base em “parecer de um técnico” ou empresa contratada e paga pelo condomínio” dando suporte ao corte de toda a árvore.
(*) Maurício Sampaio morou no Edifício Diana durante toda a infância e juventude.A mangueira foi detonada por motosserras contratadas pela gestão do condomínio e não tinha sequer um tronco apodrecido.
CELUTA VIEIRA
Aviso Importante: O texto abaixo foi retirado dos elevadores e de áreas comuns do Edifício Diana sem consulta ou explicação à sua autora. Leia abaixo na íntegra:
Há 40 anos ela é minha companheira. Fico olhando para ela enquanto tomo meu café todas as manhãs admirando sua beleza e lembrando do quanto ela foi importante para a infância dos meus filhos e de todas as crianças desse edifício. Ela é centenária. Quando chegamos aqui para morar ela já estava. Ficamos felizes por não permitirem a sua retirada.
Ela é uma linda mangueira que fica no estacionamento do prédio e deixa nossas tardes mais arejadas e a lua entre sua copa, sempre fica mais bonita. Os micos e passarinhos passeiam pelos seus galhos trazendo alegria a minha rotina diária.
Ela era a alegria das crianças. Quando falávamos com eles que íamos sair, a resposta era sempre a mesma: Ah, mãe! Prefiro ficar aqui…
O motivo? Subir em seus galhos e comer seus frutos, que praticamente dava o ano inteiro e brincar de esconde-esconde atrás do seu tronco. Passeio algum era para eles mais interessante que estar aqui com os amiguinhos e desfrutar dessas peraltices.
Esta semana, porém, tive a triste notícia de que ela seria cortada.
Como assim? Retruquei, sem acreditar.
Chamamos os agentes da prefeitura e eles condenaram a mangueira porque está completamente oca por causa dos cupins. Existe um risco enorme dela cair e causar um sério acidente para as pessoas e os veículos, disse o síndico.
Reflito o quanto somos negligentes com a natureza. Nosso olhar é muito descuidado com o planeta como se fôssemos separados dele.
Há 40 anos, além da poda irregular, também não foi feita uma avaliação sobre suas raízes, seu tronco, seus galhos para prevenir possíveis danos causados pelo tempo e poder mantê-la viva por mais cem anos.
Assim, também, fazemos com nossa saúde. Olhamos para nós muito superficialmente. Apenas para partes do nosso corpo e esquecemos que somos seres integral, que tudo em nós está interligado: nosso corpo, nossa mente e nossas emoções.
Não quero estar presente na hora de sua morte. Prefiro eternizar em minha memória afetiva a lambida dos meus filhos no caldo doce das manguinhas escorrendo por entre seus pequenos dedos.
Minha eterna gratidão através desse registro sobre você, querida Mangueira!