O Tribunal de Contas da União decidiu retirar da pauta um processo que estava marcado para ser apreciado nesta quarta-feira, o que provocava grande constrangimento entre ministros e até no governo federal. Trata de um programa de remuneração variável implantado pelo sistema S do Comercio do Rio de Janeiro, que em apenas quinze dias já estava pautado.
A inusitada eficiência é atribuída ao fato de o relator processo ser o ministro Aroldo Cedraz, pai de Tiago Cedraz, advogado que defende nos bastidores os interesses de Antonio Oliveira Santos, presidente há 33 anos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A eficiência de Cedraz tem sido motivo de piadas entre colegas dele no TCU. “Se ele for assim em todos os processos, vai virar o ministro mais eficiente do Tribunal”, ironiza um veterano integrante da Corte.
Os próprios ministros do TCU acreditam que Tiago Cedraz, jovem advogado, recebeu a missão de conseguir o julgamento do processo no TCU antes do carnaval. A missão lhe teria sido confiada por Antonio Oliveira Santos, presidente “carrapato” CNC. O objetivo seria influenciar a eleição da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomercio-RJ), favorecendo seu candidato Aldo Gonçalves, obscuro presidente de um sindicato fluminense. A eleição ocorrerá em data a ser marcada neste semestre.
Não é a primeira vez que o ministro Aroldo Cedraz e o filho advogado se envolvem em casos polêmicos. Em agosto de 2011, ao deflagrar a Operação Voucher, que desbaratou um esquema de corrupção e tráfico de influência no Ministério do Turismo, a Polícia Federal afirmou que o grupo acusado de desviar R$ 3 milhões de um convênio teve acesso privilegiado às investigações do TCU (origem da ação policial, que levou à prisão de 36 pessoas), contratou Tiago Cedraz “para resguardar-se de uma possível decisão prejudicial” do tribunal.Parecer dos técnicos do TCU apontou elementos de fraude na execução de um convênio destinado à capacitação de 1900 profissionais de turismo no Amapá.
Entre os presos estavam integrantes da cúpula do Ministério do Turismo, e a PF informou na ocasião que os advogados que defenderam uma ONG no TCU teriam conseguido acesso ao relatório do tribunal “muito antes de serem citados para apresentarem suas defesas”. Segundo relatório da PF, em conversa gravada com autorização judicial o sócio de Tiago Cedraz, identificado como Romildo, diz ao diretor-executivo da ONG, Luiz Gustavo Machado, já ter obtido “a proposta dos analistas do tribunal”.
A conversa ocorreu quatro dias antes da data que autorizava à ONG obter cópia da auditoria do TCU. “Bom, quanto ao tribunal nós sabemos tudo o que está se passando”, diz o advogado na conversa, segundo trecho transcrito pela PF. Na decisão que atendeu pedido do Ministério Público e autorizou as prisões, o juiz Anselmo Gonçalves da Silva afirma que o “grupo investigado chega a cogitar de potencial influência até no TCU, sob a perspectiva de utilização dos serviços advocatícios de Tiago Cedraz, cujo pai é ministro naquela Casa”.
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