De 2003 a 2010, a Polícia Federal deixou de investigar crimes para se concentrar em “alvos”. A denúncia é uma das várias feitas contra o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior no livro “Assassinato de Reputações”, publicado em dezembro.
Escrita em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, a obra recupera o período em que Tuma Júnior diz ter sofrido pressões na SNJ (Secretaria Nacional de Justiça) para ‘esquentar’ dossiês contra inimigos políticos do governo.
No livro, o delegado aposentado, que acompanhou de perto e também relata a apuração (ou falta de) do assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, diz que “Lula aparelhou a Polícia Federal para seus propósitos partidários”.
— A etapa que não deu certo foi estender isso ao Judiciário como um todo, ao Superior Tribunal de Justiça e, principalmente, ao Supremo Tribunal Federal.
Segundo Tuma Júnior, “sob Lula, a PF teve tantas e tamanhas operações porque a lógica foi invertida: ela estipulava primeiro o ‘alvo’ e depois passava a gerar supostas informações sobre ele”. O delegado aposentado completa: “Só o vocábulo ‘alvo’, em si, já induz que ninguém mira em algo para errar”.
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Inteligência – Essa lógica, segundo o ex-secretário de Justiça, foi elaborada por Lula a partir de sua convivência com Romeu Tuma, diretor do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) durante a ditadura e pai de Tuma Júnior.
Ao manter Tuma informado sobre os passos dos sindicalistas, Lula teria aprendido como funcionam os relatórios de inteligência (baseados em impressões e análises) durante um regime de exceção e, ao contrário do que ocorria na ditadura, a PF passou a usá-los para instaurar inquéritos policiais.
Com fraco embasamento técnico, operações como Trovão, Chacal e Satiagraha geralmente não conseguiam guarida na Justiça (isso quando não eram abortadas antes mesmo do fim), mas faziam sucesso e estrago no que Tuma Júnior chama de “STG (Supremo Tribunal do Google)”, prejudicando reputações — o próprio autor do livro considera ter sido vítima desse procedimento, ao cair da SNJ por suposto envolvimento com a máfia chinesa.
Entre os alvos apontados por Tuma Júnior no livro está o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que teria irritado o então presidente Lula ao alertá-lo sobre o mensalão. O então senador e ex-governador do Ceará Tasso Jereissati é outro que aparece no rol de alvos apontado pelo ex-secretário de Justiça, assim como o ex-governador José Serra e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
1.244 operações – Tuma Júnior registra no livro que “Lula botou nas ruas, na maioria das vezes sob o comando de [ex-ministro da Justiça] Márcio Thomaz Bastos, 1.244 operações, o que representa 25 vezes mais do que as 48 realizadas pela PF no governo Fernando Henrique Cardoso”.
— O resultado final, digo, na Justiça, é pífio. Mas os resultados nos sites de pesquisa, que é o tribunal que efetivamente condena junto à opinião pública, os números, a depender do interesse de quem os divulga ou a ótica de quem os vê, impressionam e enganam bem.
Segundo o ex-secretário nacional de Justiça, 80% desses casos “nascem de ‘grampos’ ou compartilhamento de relatórios produzidos em inquéritos ou nos anômalos PCDs (Procedimentos Criminais Diversos) iniciados com as tais escutas que a lei diz que só devem ser realizadas em último caso, ou quando não houver outro meio de prova”.
Desde que o livro virou notícia, a partir de uma reportagem da revista Veja publicada no início de dezembro, vários dos personagens mencionados na obra ameaçaram processar o autor por causa das acusações publicadas. Ainda não há notícia, contudo, que qualquer ação judicial contra Tuma Júnior por causa do livro. (Rodolfo Borges, do R7)