LUÍS AUGUSTO GOMES
O prefeito ACM Neto pode fazer qualquer esforço para convencer de que não se candidatará ao governo do Estado em 2014 que não adianta: há sempre um observador no meio político a defender essa possibilidade.
Questionado em entrevista à Tribuna da Bahia na semana passada, deu longa resposta sobre o tema. Depois de dizer-se “absorvido” pelo trabalho na Prefeitura, sem tempo, “às vezes, nem para ler sobre política”, o prefeito afirmou que “graças a Deus” não será candidato.
Ante a insistência do repórter, que citou sua liderança em pesquisas, respondeu: “Sem nenhuma chance, não há hipótese de eu ser candidato”. E num argumento extremo, sentenciou que “nenhum outro” que estivesse em seu lugar poderia “pensar em sair”.
Tais palavras seriam suficientes para todo mundo acreditar. Mas, como dissemos, não é assim que pensam muitas pessoas que se dedicam a perscrutar os mais improváveis cantos da política para desenvolver suas teses.
Sair para enfrentar Otto seria “maluquice” – Como, por exemplo, um deputado governista que se caracteriza pela qualidade da análise. Ele começa adiantando a certeza de que, independentemente de seu objetivo pessoal, “Neto vai fazer uma série de obras impactantes no ano eleitoral, porque por enquanto ele está só fazendo caixa”.
E lembrou que, apesar de anunciar a dívida astronômica do município, o prefeito “está empurrando pra frente, não pagando a ninguém”. De fato – dizemos nós –, a comissão à qual deu um mês para apresentar um plano de pagamento teve o prazo prorrogado por mais 30 dias e hoje não se fala mais nela.
Resumindo sua visão do quadro sucessório em relação ao prefeito, a fonte entende que, estando bem nas pesquisas, Neto vai avaliar o cenário, no qual, rigorosamente, só antevê um obstáculo: “Caso as condições lhe sejam favoráveis, ele só não disputa se Otto for o adversário”.
Para o deputado, o vice-governador Otto Alencar, com sua “longa experiência e excelente trânsito” na política baiana, seria o único realmente em condições de vencer o prefeito de Salvador, que não correria tamanho risco. “Só se ele fosse maluco”, comentou.
Boicote do governo, uma razão para disputar – Uma dúvida é inevitável: que desculpa o prefeito apresentaria ao eleitorado? Ele teria, nesse caso, de contar com a falta de apoio do governador Jaques Wagner à administração, para poder dizer: “Não acreditei que o governador fosse retaliar Salvador, preciso ser governador para realizar o que quero”.
Um interlocutor concordou com o parlamentar que haverá pressão interna no governo para boicotar a Prefeitura, mas lembrou que o candidato Neto dizia que “a cidade pode caminhar com as próprias pernas”. O deputado ponderou: “Mas ele também perguntou a Pelegrino se o governo iria discriminar Salvador, recebendo resposta negativa”.
Com Campos, um palanque nordestino e leve – Reconhecendo que fazia o papel de “advogado do diabo”, porque seu candidato ao governo será o mesmo de Wagner, o deputado arguiu que o prefeito poderá ter “o candidato presidencial forte que lhe falta ” para vincular a uma eventual campanha a governador.
“Se Eduardo Campos sair, minha opinião é que o DEM vai para ele, não vai com Aécio Neves, não se aliará mais ao PSDB”. Caso isso se confirme, “apoiando um governador nordestino e com chance, não haverá palanque mais leve para Neto”.
O deputado referiu-se à tradição presidencial da região: “Collor de Mello saiu com 1% e ganhou, Roseana Sarney estava disparada, só mesmo aquela denúncia, com os montes de dinheiro mostrados na televisão, é que derrubou ela”.
O quadro nacional para 2014 sugere, segundo o deputado, a realização de segundo turno, pois a presidente Dilma deverá enfrentar, pelo menos, o senador Aécio Neves, o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva, o que tornaria a situação nos Estados ainda mais indefinida.
A história recente na Bahia contribui para dar ares de veracidade às especulações. “O próprio Jaques Wagner ganhou praticamente sozinho, com o PMDB, a eleição de 2006, e tinha somente 3% nas pesquisas iniciais. Aqui em Salvador, Neto venceu Wagner, Lula e Dilma juntos. Ou seja, o governador não pode subestimar o prefeito”.
Verdadeiro problema não é Neto, mas o vice – A ser correto o longo raciocínio da fonte acima, o governador Wagner pode despreocupar-se com o prefeito ante a crescente possibilidade de o vice Otto Alencar vir a disputar o governo no próximo ano.
Porque é para isso que apontam os fatos e as circunstâncias. A recente aparição solitária de Otto no programa nacional de TV do PSD expõe uma verdade: trata-se do único político do partido com efetiva viabilidade de eleger-se governador em todo o Brasil.
Difícil é crer que o presidente nacional, Gilberto Kassab, não pressionará, por cima e por baixo, para conseguir esse intento, que já pode ser considerado irrerversível se o PSD vier a ficar com Eduardo Campos para presidente, caminho que deixou aberto com a recusa à participação no ministério.
Por outro lado, caso opte por Dilma Rousseff, Kassab estará muito à vontade para que o “projeto” marche com Otto na Bahia. A fórmula seria, como se sabe, de amplo desagrado do PT – não necessariamente de Wagner –, mas há sapos piores de engolir. (Por Escrito)