LUÍS AUGUSTO GOMES
O julgamento do mensalão inicia hoje seu momento crucial: a avaliação do papel e da responsabilidade do chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula, José Dirceu, no processo de apropriação de recursos públicos e corrupção de parlamentares já demonstrado à larga na maioria dos votos até aqui proferidos no Supremo Tribunal Federal.
É possível que a maior parte da nação predominantemente jovem que somos não atente para o significado desse fato, mas os que viveram a efervescência política dos anos 60 e 70 sentem que a esquerda brasileira está sendo gravemente ferida, e será penoso reconstruí-la sob esse rótulo.
Dirceu é seu grande nome remanescente, entre tantos que morreram ou abandonaram a política, emblema de uma luta que iniciou muito jovem, na política estudantil, contra o então recém-instalado regime militar de 1964. Preso, exilado e depois vivendo clandestinamente do Brasil, foi uma referência para gerações, mesmo pelos que não compartilhavam de suas ideias.
Dirceu menosprezou um homem de Collor – O presente comentário parte, obviamente, do pressuposto de que Dirceu será condenado pelo STF, passível de pleno desmentido se assim determinarem os pronunciamentos dos ministros. O julgamento, tendo atestado o desvio de recursos e a existência do mensalão, estabeleceu, em vários momentos, conexões entre réus já condenados e o da sessão de hoje.
Veja-se ainda que o mensalão destinou-se a garantir o voto de deputados federais em projetos essenciais do Executivo, um instrumento de governabilidade. Se não for um sacrilégio institucional assim defini-lo, era alto assunto de Estado, cujas concepção, formulação e aplicação não caberiam, com todo respeito, ao patamar de José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério.
A confirmar-se essa impressão, portanto, será inevitável uma reflexão na busca de uma explicação para o fato de Dirceu, que em sua trajetória lidou tantas vezes com circunstâncias de risco de vida, julgar que permaneceriam eternamente subterrâneas suas relações com marginais da política do tipo Roberto Jefferson, que era o chefe da chamada “tropa de choque” do presidente Fernando Collor no Congresso.
Foi antes – A esse respeito, convém esclarecer que naquele tempo o PT não havia chegado ao poder, e Collor, que sofreria processo de impeachment por corrupção, ainda não era aliado de Lula.
Paródia leninista – Assaltar bancos por uma causa política é moral. O Tesouro, não. (Por Escrito)