ANTONIO RAIMUNDO DA SILVEIRA
(Atualizado em 25/01/2011)
A propósito do artigo “Blogs ‘chapa-branca’ fazem a festa com dinheiro público na Bahia”, que publiquei no Jornal da Mídia em 28 de dezembro passado, o comentarista político Tasso Franco publicou no site Bahia Já, de sua propriedade, esta pérola da mediocridade: “Tem um camarada do Jornal da Midia que empunhou uma picareta. Foi assim que o rapaz do Pura Política foi parar no xilindró”.
O artigo que escrevi denuncia a tática do governo Wagner de distribuir publicidade ‘cala-boca’ a blogs e sites ‘chapa-branca’ — a preços superfaturados como nunca se viu na Bahia — em troca da subserviência e da cumplicidade sobre o que é divulgado.
Como Tasso Franco parece que entende muito bem de picareta, a ponto de usá-la neste ataque rasteiro contra mim, gostaria de saber qual é a principal utilidade que ele dá à ferramenta: seria cavar publicidade oficial superfaturada, por acaso?
No meu caso, a usarei para desmanchar as fachadas de “santos de pau oco” travestidos de “cidadãos de fino trato” — autênticos “medalhões” de micheline — e também para destruir as mutretas de espertos “inquilinos temporários do poder”.
Puxa-saquismo
A acusação do dono do Bahia Já não passa de uma tática de intimidação típica das máfias que se eternizam a mamar nas têtas do governo e temem perder a “boquinha”. Mas não me intimida.
Uma das missões do jornalismo nos regimes democráticos é fiscalizar a atuação dos poderes públicos de forma a assegurar a transparência e a lisura da relação do governo com a sociedade. Não é função do jornalismo bajular, elogiar e ajudar na divulgação de factoides com o objetivo de enganar a opinião pública
Mas o que se vê hoje na internet baiana é uma verdadeira explosão de blogs e sites fabricados para puxar o saco dos poderosos de plantão e atender às suas estratégias de poder.
Neles, a análise isenta dos fatos dá lugar ao elogio fácil, à louvação sem o mínimo pudor, à crítica de araque e a humilhantes rapapés e salamaleques. Tudo premiado com gordas verbas de publicidade oficial.
Como podem comentaristas políticos fazer análises isentas e noticiar fatos do setor com independência, se seus sites ou blogs são patrocinados por órgãos do governo e ostentam anúncios oficiais superfaturados a piscar mais que árvores de Natal? É o que se vê com frequência na internet baiana.
O site de Tasso Franco não foge à regra. Anúncios do Governo do Estado, Prefeitura de Salvador, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e outros órgãos públicos convivem com comentários e notícias de interesse do mundo político.
No final de dezembro passado, o comentarista fez, em seu site, rasgados elogios ao governador Jaques Wagner, a quem considerou uma liderança comparável a JJ Seabra, Octávio Mangabeira, Juracy Magalhães e Luis Viana Filho.
Como podem comentaristas políticos fazer análises isentas e noticiar fatos do setor com independência, se seus sites ou blogs são patrocinados por órgãos do governo e ostentam anúncios oficiais superfaturados a piscar mais que árvores de Natal?
Enriquecimento fácil
A bajulação virou rotina na Bahia. Em alguns casos é explícita, mas na maioria das vezes é bem dissimulada. O jornalismo de resultados tornou-se uma praga na mídia online.
Entendo que a divulgação de publicidade oficial é uma atividade lícita e até necessária, desde que a distribuição de anúncios seja feita com base em critérios técnicos e não esteja atrelada a apadrinhamento, influência política e subserviência dos veículos de comunicação aos poderosos de plantão.
E mais: o custo dos anúncios deve obedecer aos preços de mercado — ao invés do superfaturamento observado na mídia internet, que resulta no enriquecimento fácil dos apadrinhados do sistema, às custas dos cofres do Estado.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a lei que regulamenta a publicidade oficial determina que “os anúncios, notícias ou propostas de contratos poderão ser pagas por um preço que não supere a tarifa comercial aplicada a particulares, com os descontos habituais”. Quem não cumprir a lei vai para a cadeia, ou xilindró como Tasso Franco prefere.
Lição de moral
Por ironia do destino, no artigo “Escolinha de Quintino e 40 anos da Tribuna da Bahia”, de sua autoria, Tasso Franco relata um episódio no qual Quintino de Carvalho, um dos fundadores da TB, alertava para as perigosas relações que podem ocorrer entre jornalistas e governantes:
“Quitino (sic) dizia: ‘Vocês têm o compromisso eterno de viver da profissão com dignidade’. E ainda está guardada em minha memória o dia em que fomos (grupo de jornalistas) a um almoço no Palácio de Aclamação oferecido pelo governador Luiz Viana Filho, no final do ano, e chegamos na redação com charutos e docinhos. Quitino (sic) mandou jogar tudo na lata do lixo.
Foi a primeira vez que ouvi falar na Teoria da Vidraça de que você deve prestar atenção aos mínimos detalhes, e se aceita que uma vidraça fique quebrada e não combate aquele delito, depois será seu carro, sua rua e assim por diante. Ora, se baforamos charutos, poderiamos depois, em tese, aceitar canetas, gravatas, um dinheirinho e um dinheirão”.
Será que Tasso Franco aprendeu a lição?
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