E Bolsonaro conduz com sucesso a demolição da PF
Em Brasília, quase tudo o que se vê, se sente e se respira conspira. Quem viu o vídeo da fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020 sentiu que a Polícia Federal corria perigo. Bastou respirar o cheiro de queimado que emanava dos comentários de Bolsonaro.
“Vai trocar”, disse o presidente. “Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira.”
Decorridos quase dois anos, Bolsonaro demonstrou que não estava mesmo para brinquedo. Trocou o “traidor” Sergio Moro por um amigo dos seus filhos, Anderson Torres, no Ministério da Justiça. Substituiu o diretor-geral da Polícia Federal cinco vezes. E autorizou duas dezenas de remoções em postos de chefia nas superintendências estaduais do órgão. Houve mais do que mero aparelhamento político. Bolsonaro estilhaçou a imagem da PF.
Três das coisas mais perigosas para um governo são a imprensa livre, a Procuradoria ativa e a Polícia Federal autônoma. Bolsonaro se contrapõe à imprensa profissional difundindo notícias falsas. Acomodou na Procuradoria um procurador sem vocação para procurar. E conduz com sucesso a demolição da PF. Conseguiu avacalhar um órgão que já foi respeitado
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