REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
O medo da contaminação por coronavírus tem deixado a população da Ilha de Itaparica cada vez mais apreensiva. A Ilha já soma quase 100 casos confirmados em seus dois municípios – Itaparica e Vera Cruz -, segundo os dados oficiais da Secretaria de Saúde da Bahia. São 49 casos em cada um e os números assustam quando se considera a população dos dois municípios – 43 mil em Vera Cruz e 22 mil em Itaparica.
A preocupação maior dos moradores da lha é com o grande número de pessoas que chega de Salvador, onde está o epicentro do coronavírus. A capital baiana, bem em frente à Ilha, contabiliza 22.155 e 854 mortes. O medo da Ilha de Itaparica ganha proporção diante da falta de ações eficazes das duas prefeituras para inibir o acesso fácil de quem chega de fora aos distritos dos dois municípios.
Ontem, no Sistema Ferry-boat, o movimento de embarque de passageiros e veículos foi intenso durante todo o dia e sobraram centenas de carros no pátio e na fila em São Joaquim para embarque do último horário, às 20h. (Confira o vídeo abaixo). A Prefeitura de Itaparica divulgou amplamente que implantaria barreiras para “isolar” o município. A de Vera Cruz, fez o mesmo – o sistema opera em Bom Despacho, que pertence a Itaparica, mas atinge os dois municípios .
A gestão de Itaparica foi além: garantiu até instalar barreira para passageiros que desembarcassem no Terminal do ferry em Bom Despacho, medida nunca praticada. A promessa da prefeita Marlylda Barbuda ficou famosa: “Só entra quem mostrar o título de eleitor de Itaparica. Quem não mostrar, volta no ferry para Salvador”.
Ferry-boat com movimento intenso. Sobraram carros na fila
“Bom dia Prefeita (o)”
Conhecedora como poucos do sistema de transporte marítimo da Ilha de Itaparica (Salvador-Mar Grande (lanchas) e Salvador-Bom Desspacho (ferry-boat) e dos problemas da Ilha de Itaparica em todos os níveis, a empresária Lenise Ferreira assistiu na TV BAHIA a reportagem sobre a saída de Salvador para a Ilha, via ferry-boat. Preocupada com o que viu, Lenise enviou para os dois prefeitos – Marcus Vinícius e Marlylda Barbuda, a seguinte mensagem:
“A TV BAHIA está mostrando desde ontem as filas no sistema ferry boat em São Joaquim. São muitas pessoas vindo para a Ilha ou que vão passar por ela em busca de final de semana e ou festejos juninos no interior/Ilha.
A repórter salientou que hoje na BAHIA, Salvador detém 60% dos casos de COVID 19 e que muitas destas pessoas que estão embarcando agora podem estar trazendo o vírus consigo e poderão contaminar outras dezenas de pessoas.
O que está sendo feito para evitar este aumento de fluxo ou ao menos para testar quem aqui chega?”
O Jornal da Mídia apurou que a prefeita Marlylda Barbuda respondeu ao questionamento da empresária:
“Permanecemos com as barreiras sanitárias de acesso a Itaparica. Acho que mais da metade dos carros vão para outros municípios do Recôncavo”
O outro lado da moeda
Existem, também, aqueles que chamam a atenção para o outro lado da moeda: a aglomeração no ferry não é só causada pelos veranistas e pessoas que passam pela Ilha. A população da Ilha de Itaparica utiliza muito e depende muito do Sistema Ferry-boat, bastante utilizado também pelas ambulâncias que procedem da Ilha e de municípios vizinhos com pacientes com doenças crônicas que são atendidos em hospitais de Salvador.
Ilha de Itaparica: mapa do coronavírus aponta Vera Cruz e Itaparica iguais em número de casos confirmados. Clique AQUI e leia.
O número de trabalhadores da Ilha que exerce atividades profissionais em Salvador também é grande, como também é significativa a quantidade de marisqueiros, pescadores e pequenos vendedores que se sustentam, que mantêm suas famílias graças à comercialização de seus produtos na capital.
Portanto, caberia ao Governo do Estado e as duas prefeituras, juntas, estabeleceram protocolos e regras equilibradas, levando em consideração todos os lados da questão. Na prática, no entanto, o que se assiste é um festival de medidas isoladas adotadas visando o benefício político e não, necessariamente, a segurança e a proteção da população da Ilha de Itaparica.
Sobre o Sistema Ferry-boat
O Sistema Ferry-boat é um um serviço público concedido pelo Governo do Estado, sendo o principal meio de transporte ligando Salvador à Ilha de Itaparica. O sistema é operado pela Internacional Travessias, empresa do Maranhão contratada no governo de Jaques Wagner. A concessão é de 25 anos. A Internacional é alvo de críticas constantes por parte dos usuários e meios de comunicação. Não investiu no sistema e nem trouxe nenhuma melhoria no serviço para os usuários.
Neste período da pandemia de coronavírus, o Sistema Ferry-boat está operando com apenas oito horários por dia, com intervalo entre uma saída e outra de duas horas. Essa foi, aliás, na prática, a única medida adotada pelo Governo do Estado voltada para conter o avanço do coronavírus, em relação ao Sistema Ferry-boat.
O sistema, como já foi dito, é uma concessão do governo do Estado, é controlado pelo Governo do Estado. Mas isso não impediria que juntas, as duas prefeituras – Itaparica e Vera Cruz – construíssem um plano mais eficaz e eficiente para que as operações não resultassem em problemas para a segurança da população da Ilha de Itaparica.
Mas ainda está em tempo. Afinal, nunca é tarde para a tomada de boas medidas. Medidas realmente eficazes e voltadas para o bem estar comum e não para turbinar o ego de alguns.