O ex-magistrado Antonio Di Pietro, 65 anos, é o rosto mais conhecido da força-tarefa que deflagrou a Mãos Limpas (Mani Pulite), operação que entre 1992 e 1994 investigou o alto escalão da política italiana e que inspirou a Lava Jato. Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, Di Pietro expressou solidariedade ao juiz federal Sergio Moro e lançou uma advertência: “Certamente, Moro acabará processado, mas meu desejo é que, como magistrado independente, cumpra seu dever”.
Na época, a força tarefa de Mãos Limpas respondeu a vários inquéritos e processos, inclusive de atentado aos órgãos constitucionais do estado. “Foi uma tentativa de desviar a atenção e minar a credibilidade da investigação”, diz o magistrado. O que está acontecendo no Brasil, segundo ele, é uma história já vista antes.
O senhor está acompanhando os desdobramentos da operação Lava Jato?
Não conheço os autos do processo, mas as polêmicas alcançaram um nível internacional. O que está acontecendo é uma história já vista antes: um magistrado independente que está fazendo seu trabalho e que é vítima de deslegitimação, críticas e ataques. É a tentativa de culpar quem investiga e não quem cometeu os crimes.
O senhor conhece pessoalmente o juiz Sergio Moro?
Não, mas vi que está tentando descobrir fatos criminais no Brasil, assim como aconteceu na Itália. As personalidades do alto escalão envolvidas não deveriam se esconder atrás do cargo de ministro, mas deveriam ir perante um juiz para serem julgadas.
Moro tem uma popularidade altíssima. O senhor também foi considerado herói nacional.
Ter a grande atenção da opinião pública é o único modo para que um magistrado não seja reprimido. As personalidades do alto escalão envolvidas não deveriam se esconder atrás do cargo de ministro.”
Comparado com a sua época, Moro tem um instrumento a mais: as interceptações telefônicas. Sua utilização, porém, está gerando fortes controvérsias no Brasil.
Na minha época havia poucos celulares, mas hoje eles são um instrumento de investigação importante. Tomei conhecimento das polêmicas sobre as interceptações dos altos cargos do governo e das acusações contra o juiz Moro, que ele estaria agindo sob mando político e estaria rompendo o pacto democrático. Mas, ao invés de focar em quem investiga, quem tem papel de destaque nas instituições, tem o dever ético e político de explicar seu comportamento perante a opinião pública. O elevado grau de atenção da sociedade garante a eficiência da Justiça.