REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Salvador – Depois de passar mais de 3 horas à deriva na Baía de Todos os Santos, o ferryboat “Pinheiro”, completamente lotado de passageiros e veículos, foi rebocado pelo ferry “Juracy Magalhães” e conseguiu chegar ao Terminal de Bom Despacho, na Ilha de Itaparica. O navio era para sair de Salvador às 5h da manhã desta segunda-feira (20), quando apresentou um problema antes de zarpar. E conseguiu desatracar às 6h e com pouco tempo de viagem apagou os motores e começou a roda, sem leme e sem comando no mar. Completamente à deriva.

O acidente com o “Pinheiro” é apenas mais uma prova que serve para comprovar o caos do sistema ferryboat, operado pela empresa Internacional Marítima, que tem um contrato emergencial com o Estado que já dura 10 meses. A Internacional veio atuar na Bahia através da Secretaria de Infraestrutura e Agerba, que foram buscar a empresa no Maranhão. O acidente com o “Pinheiro” é apenas mais um que acontece, mas o governo continua garantido que o sistema ”nunca esteve tão bem como agora”.
Vale lembrar que o ferry Pinheiro foi “totalmente reformado” pela própria Internacional Marítima em parceria com a baiana Lumar, com recursos do Governo do Estado, que desembolsou só para este navio mais de R$ 4 milhões – no total, foram gastos mais de R$ 40 milhões na “reforma” da frota. Esse navio passou por serviços de novembro de 2012 a janeiro de 2013, quando foi “reincorporado” com muita festa pelo governador Jaques Wagner em companhia do vice Otto Alencar. Quatro dias depois, o navio quebrou e nos últimos 12 meses já apresentou vários problemas, ficando constantemente fora de tráfego.

Quadro É Vergonhoso – As imagens aéreas mostradas para todo o país pela Rede Record, com o ferry “Pinheiro” sendo puxado com cordas pelo “Juracy Magalhães”, são um retrato da realidade de um sistema decadente, operado de forma bisonha e sem qualquer fiscalização do Estado. A Agerba, o órgão fiscalizador, se omite completamente sobre a situação. A autarquia´está esfacelada e é tocada unicamente por afilhados e filhos de políticos da base do governo Wagner. A Seinfra, do secretário Otto Alencar, faz propaganda com os novos ferries que iriam chegar neste mês de janeiro e prefere passar para a opinião pública uma situação irreal que jamais convence aos usuários do sistema.
A Internacional Marítima parece se gabar ao anunciar que tem “cinco navios” em tráfego (na realidade, normalmente só existem dois ou três porque os demais vivem constantemente quebrados), como se esse número fosse uma grande coisa, uma conquista. Há 20 anos, o sistema operava com oito embarcações, a demanda de passageiros e veículos era o dobro da atual e a população de Salvador era também a metade de hoje. Com o descrédito total que tomou conta do ferry, a demanda despencou de forma espetacular e a desculpa do governo e da operadora é de que as ”filas cresceram agora” porque a demanda também cresceu. Pura inverdade. Basta pegar os números de 1987, do Governo Waldir Pires, e comparar com os atuais – mais de 1,2 milhães de veículos e 5,5 milhões de passageiros transportados. Hoje, pouco mais de 700 mil carros utilizam o sistema.
Os usuários passam seis horas na fila de veículos, mas a operadora, ancorada pelo governo, sempre divulga como tempo médio de espera é de duas horas e meia. E o governo, que por incompetência ou por algum interesse não acompanha e nem fiscaliza, ilude o povo com promessas, com factóides. Independente do sofrimento dos usuários habituais do sistema, o que a Bahia passa para os turistas é uma imagem de decadência, de um Estado que não cuida do patrimônio público, que se omite, que não fiscaliza um serviço público concedido e que parece atuar para favorecer empresas sem condições de servir bem e sem comprometimento com os interesses da população.
População paga pela incompetência de alguns – Lembrando o slogan da campanha do Governo do Estado, esta não é, sinceramente, a Bahia de todos nós. O sistema ferryboat, repetimos, é caótico, ultrapassado, arcaico, tudo por falta de gestão e de comprometimento do governo e dos operadores. A incompetência campeia e nem mesmo com a propaganda enganosa o governo conseguirá convencer. Apesar de ter sido concedido em 1996, por Paulo Souto, à iniciativa privada, foi no Governo Wagner que a situação se degringolou completamente, com inúmeros acidentes, desvios de equipamentos, superfaturamento de embarcações, etc.
É o preço que a população paga por escolhas equivocadas, pelo governo, de empresas incapacitadas para gerir o sistema. São companhias sempre de fora da Bahia e a opção parece ser unicamente lastreada em critérios políticos e nunca técnicos. Parece até que na Bahia não existem empresários capazes. O Comab, que recebeu o sistema de mão beijado no governo Paulo Souto, em 1996, foi uma invenção do então secretário Eraldo Tinoco.
A TWB, já encontrada aí pelo atual governo, tinha ligações com gestores e políticos da gestão de Jaques Wagner. Se envolveu em escândalos espetaculares. E a Internacional Marítima, cujo dono é sócio de Jorge Murad, esposo de Roseane Sarney, segundo os jornais O Globo e Estado de São Paulo, dizem que atracou na Bahia debaixo das asas do deputado Zequinha Sarney, que teria feito o pedido a um secretário de Estado. Uma coisa vergonhosa.
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