REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Enquanto a Agerba (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Transportes) anuncia que na próxima semana poderá ser lançada a licitação para a concessão do sistema ferryboat, os usuários continuam sendo atendidos por um serviço de baixíssima qualidade da Internacional Marítima, empresa contratada em caráter emegencial para operar o sistema. Com nove meses na Bahia, a companhia que o governo do Estado foi buscar no Maranhão é tida como muito pior que a antiga concessionária, a TWB, que deixou o sistema após sofrer intervenção da Agerba, em setembro de 2012.
As críticas à Internacional Marítima vêm de todas as áreas: operacional, gestão dos terminais, manutenção das embarcações e falta de ações que possam passar para os usuários confiança no atendimento. No sistema ferryboat, ninguém sabe mais quais são os horários de saída dos barcos dos terminais. A falta de embarcações causada por defeitos frequentes virou uma rotina. E as falhas operacionais são irritantes. Só duas bilheterias, de 10, atendem e a falta de troco é uma rotina. E o sistema de hora marcada acabou de vez.
Na última sexta-feira, às 18h, com apenas três embarcações em tráfego e uma fila de veículos que se aproximava da Calçada, o serviço de som da Internacional no Terminal de São Joaquim anunciava: “Atenção Senhores Usuários: acaba de atracar nesse terminal o ferryboat ‘Agenor Gordilho’. Neste momento o navio vai fazer o abastecimento e depois será feito o embarque”. A operação levou perto de 30 minutos. Nunca se viu isso no sistema. Abastecer navios no momento de pico, com os usuários fazendo buzinaço na fila? Por que a Internacional não abastece os navios depois que as operações do sistema são encerradas? De madrugada? E a Agerba, será que não acompanha essa falha amadora?
A Internacional Marítima tem todo o controle das bilheterias do ferryboat. Não paga um centavo sequer ao Estado pela exploração das embarcações e dos terminais, mas não investe absolutamente nada. Como se diz por aí, é tudo 0800. Os navios que quebram agora constantemente, foram “reformados” por ela, em parceria com a baiana Lumar. As duas fizeram os serviços “meia sola” que consumiram R$ 40 milhões, segundo o governo. Os ferries começaram a ser docados para a ”reforma” em outubro do ano passado e, na época, empolgado, o secretário Otto Alencar anunciava que os baianos teriam um Verão 2012-2013 fantástico, com nada menos que sete embarcações operando. Todos os navios recuperados, quebraram um atrás do outro e os usuários tiveram uma alta estação de doer, com o sistema se arrastando, com dois ou três navios – os mesmos de hoje.
Sem se contar com os acidentes que já ocorreram desde que a Internacional Marítima chegou à Bahia, com navios ficando à deriva ou batendo no momento de atracar, é notória a falta de interesse da concessionária em zelar pelo sistema como um todo. Parece até coisa proposital: quanto mais reclamações existirem, melhor para ela porque joga o governo na parede e os cofres públicos são abertos. A situação ficou tão crítica e preocupante que o governo resolveu se manifestar, colocando um preposto dentro da Internacional Marítima para gerir o sistema e pelo menos minimizar a situação caótica atual.
O escalado para a missão é o diretor da área de pesquisas e tarifas da Agerba, Bruno Morais. Com experiência adquirida no sistema do tempo em que foi interventor da TWB, informa-se que Morais está com a mesma atribuição (interventor) e tirou completamente a autonomia que a Internacional tinha. Tem a missão inclusive de executar serviços visando a melhoria dos terminais e, se preciso, intervir nas operações – o governo, através da Seinfra, teria liberado uma verba extra para alguns serviços, já que a Internacional não quer gastar nada.
Ao contrário da direção da empresa, Bruno, segundo se informa, se relaciona bem com empregados da concessionária, com os servidores da Agerba nos terminais e com segmentos de usuários da Ilha de Itaparica. Pelo menos por enquanto, está segurando a onda com resultados bem melhores que os da Internacional. “Vamos ter no mínimo cinco ferries no final de ano. A meta é essa e acho que vai tudo correr bem”. Não foi a direção da concessionária, mas Bruno quem negociou com os membros da manifestação dos cadeirantes ocorrida recentemente em São Joaquim, que protestaram pelos péssimos serviços da empresa.
Terminais Abandonados – O abandono dos terminais pela Internacional Marítima impressiona, principalmente o de Bom Despacho, onde existem muros caídos há mais de três meses, a buraqueira é total e o mato tomou conta de quase tudo. A impressão que o turista que quer chegar a Salvador por mar tem é que na Bahia não existe governo e que os serviços públicos não são fiscalizados. Impressão ou realidade?
Na segunda-feira (16), na fila de veículos do Terminal de Bom Despacho, um usuário chamou um funcionário da concessionária do ferry para mostrar o matagal da área destinada às pessoas que esperam em seus carros o momento de embarque. E o rapaz foi curto e grosso: “Olha aqui de quem é a culpa, olhe”, disse mostrando a marca da Internacional estampada na camisa amarela que vestia. E arrematou: “A culpa é dela e mais ainda do governo que fica espalhando que essa empresa é melhor que a outra. Isso não existe. Tudo está abandonado e ninguém toma uma providência”.
Até os comerciantes de lanchonetes instalados nos terminais têm queixas e são unânimes em afirmar, agora, que a TWB era muito melhor que a Internacional. “Eles (os donos) cobram muito bem, mas não gostam de pagar. Estão me devendo R$ 600 em lanches e não dão qualquer satisfação”, disse um deles ao JORNAL DA MÍDIA.
Espera-se que na nova licitação para a concessão do sistema ferryboat, que pode ser lançada semana que vem, segundo Eduardo Pessoa, diretor da Agerba, o governo tenha critérios melhores para a escolha de quem vai gerir o sistema. Essa empresa que aí está parece queimada. Os erros cometidos são sucessivos e os serviços pioraram. Talvez seja a Internacional a pior concessionária que já passou pelo ferry. Desde que concedeu o sistema à iniciativa privada, em 1996, o governo vem gastando cerca de R$ 100 milhões a cada intervenção. Foi assim na saída do Comab, na intervenção da Kaimi, em 2003 e na da TWB em 2012. Seja como for, o cidadão não pode continuar pagando a conta pela incompetência de alguns . Incompetência e interesses outros.