LUÍS AUGUSTO GOMES
Mais este episódio em torno do ferryboat – o governo baiano teria comprado duas barcas pelo preço de três – encontra o secretário da Infraestrutura e vice-governador, Otto Alencar, em posição de embate, sugerindo que o político tranquilo e sorridente do normal das entrevistas não contém um lado que, digamos, tenda ao confronto.
Não que brigar em política seja uma coisa errada, ao contrário, o conflito é a essência da política, mas apenas aquele entrechoque que leve ao esclarecimento pleno, se possível, das questões em debate e, se Deus quiser, à demonstração de que o interesse público e o dinheiro público estão sendo tratados com cautela.
A denúncia é de três empresas que se recusaram a participar da licitação por julgarem excessivos os termos do edital. O secretário acha que essa ausência as descredencia a opinar e desqualifica suas argumentações técnicas e financeiras com chavões, como “não tem nenhum problema” e “denúncia infundada”, além do arriscado “confio na comissão licitatória”.
Entretanto, é legítimo a todo cidadão e organização manifestar-se sobre qualquer assunto, especialmente da área pública, cabendo fazê-lo como desejar. Talvez o secretário não tenha refletido sobre a total impropriedade de dizer que o denunciante deveria representar ao Ministério Público ou Tribunal de Contas, não procurar a imprensa.
Da mesma forma, o secretário saiu do eixo na resposta ao deputado Lúcio Vieira Lima, que, chistoso como é, viu no negócio a inversão daquele bordão publicitário do “pague dois e leve três”. A reação de Otto, acusando quadros do PMDB de falcatruas pretéritas, não tranquiliza a opinião pública quanto à possibilidade de o Estado estar prestes a jogar ao mar perto de 20 milhões de reais.
Líder vê “ganho” para o Estado e os usuários – Ante os questionamentos sobre a compra dos ferries, o deputado Alan Sanches, líder do PSD na Assembleia Legislativa, disse que a oposição, “além de agir de forma irresponsável ao levantar suspeitas sem provas, está criando chifre em cabeça de cavalo”.
Segundo Sanches, “todos sabem que existe uma demanda reprimida que precisa ser resolvida”, não havendo motivo para preocupação porque “o processo licitatório foi feito com total lisura”, e para comprová-lo “basta comparar com valores e capacidade de passageiros e veículos dos comprados anteriormente”.
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Afirmou o deputado que, enquanto os ferries antigos, que comportam 60 veículos, custaram R$ 39 milhões cada, os dois em processo de aquisição custaram R$ 27 milhões e têm capacidade para para 200 veículos, representando “um ganho para o Erário e para os usuários”.
Sanches acrescentou que o valor pago não compreende apenas a compra dos barcos, mas inclui os serviços que integram a adaptação às normas brasileiras, ditadas pela Marinha, como docagem dos barcos, inspeção dos navios, fornecimento de peças de reserva e nacionalização. (Por Escrito)