REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Se o governador Jaques Wagner tivesse hoje a mesma visão que tinha em 1995 quando deputado federal, combatente e muito ligado aos movimentos sindicais e de trabalhadores, com certeza não teria dúvida em pedir uma ação imediata da Delegacia do Trabalho e até do Ministério Público contra a Internacional Marítima. Ou, quem sabe, até da polícia. Repetiria, assim, o que fez em 1997 em discurso na Câmara Federal, contra o Comab – Consórcio Marítimo da Bahia, que operava na época o sistema ferryboat.
Os trabalhadores marítimos lotados na empresa que o governo de Wagner foi buscar agora no Maranhão denunciam que estão comendo o verdadeiro pão que o diabo amassou.
E o pior: não têm para quem apelar. A Secretaria de Infraestrutura, afirmam, tem uma postura sempre de defender a companhia do Maranhão. A Agerba, o órgao fiscalizador, se omite completamente – nem fiscaliza nada, não se preocupa com os péssimos serviços aos usuários e muito menos com o tratamento dispensado aos empregados. E mais: os sindicatos são todos controlados pela concessionária.
“Não tem mais cartão de ponto. A Internacional acabou com isso. Agora o trabalhador recebe uma folha com o seu nome, assina e devolve em branco. Aí eles fazem o que querem. Cortaram as horas extras trabalhadas e as condições de trabalho no interior das embarcações continuam as mesmas. Às vezes falta até água para a tripulação e os marinheiros dormem no chão”, denuncia um marítimo, em e-mail ao JORNAL DA MÍDIA.
O Discurso de Wagner
Em 1997, quando fez na Câmara dos Deputados um pronunciamento duro (leia o discurso na íntegra ao final da matéria) contra o Comab, o então deputado federal Jaques Wagner denunciou que os marítimos estavam sendo submetidos a uma ”estúpida” jornada de trabalho de 48 horas ininterruptas. “A responsabilidade por tais arbitrariedades é do Consórcio Marítimos da Bahia”, sustentou na época o hoje governador da Bahia.
Wagner denunciou a visão do lucro fácil que ”deixa os empresários cegos”, a ”falta de pagamento de horas extras” e as ”condições desumanos de trabalho”. Extamente tudo que existe hoje no ferryboat da Internacional Marítima, que o governador Wagner parece desconhecer. Ou desconhece mesmo por não se importar com a situação caótica que atinge milhares de baianos.
“Os empresários do Comab” – continua Wagner em seu discurso – ”cometem também uma ilegalidade: estipulam a obrigatoriedade da excessiva jornada, sem a existência do Contrato Coletico com a entidade representativa da categoria, conforme é exigido por lei. Não satisfeitos, os patrões não estão pagando horas extras e demais adicionais”, detonou.
Tudo Piorou
Segundo atestam os marítimos que trabalham no sistema ferryboat desde que o Comab assumiu as operações, em 1996, nem de longe a Internacional Marítima pode ser comparada ao Comab, contra quem Jaques Wagner reagiu de forma inflamada.
“É muito pior. Desde que a TWB entrou no sistema, a situação foi piorando. A TWB ficou na Bahia mais tempo no governo Wagner, mais de seis anos com Wagner. Denunciávamos que os navios estavam sendo sucateados desde 2007 e o governo fechava os olhos. E agora passaram o serviço para a Internacional Marítima, que piorou ainda mais. Os navios estão se acabando porque os empresários do Maranhão só estão aqui para ganhar dinheiro. Eles só falam nos navios novos que o governo vai comprar. Os usuários é que podem falar melhor, porque são os mais prejudicados. E o governo ainda prorrogou o contrato dessa empresa. Parece um mistério isso”, completa o marítimo em seu e-mail.