REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Decididamente, o líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Zé Neto (PT), não dá sorte com o sistema ferryboat. É o maior pé frio entre os milhares de usuários da travessia Salvador-Bom Despacho, disparadamente. Na sexta-feira, o parlamentar embarcou no ferry “Anna Nery” e teve que aguardar mais de duas para que a embarcação zarpasse. Um problema na gaveta de atracação impediu a operação.
Na época da TWB, Zé Neto passou poucas e boas no ferryboat, as mesmas enfrentadas pelos usuários comuns. Mas, justiça seja feita, ele sempre denunciava a situação vexatória do sistema, mesmo sabendo que gente muito influente do próprio governo colaborava e apoiava a TWB.
Zé Neto parece ter descoberto a pólvora. Agora, o líder do governo distribui até nota à imprensa, como fez, para dizer que “faltou agilidade” do Governo do Estado para reconhecer que a TWB, ex-administradora do sistema, não tinha mais condições de gerir o serviço.
Se tivesse ouvido a empresária Lenise Ferreira, sua irmã, que é presidente da Associação Comercial de Vera Cruz, podia pelo menos ter alertado o governo há muito tempo. Lenise é autora de diversas ações no Ministério Público contra a TWB e em todas denunciou a falta de empenho e vontade do governo em resolver a situação.
A TWB veio para a Bahia em 2005 e desde o início do governo Wagner, em 2007, os problemas da concessionária paulista começaram a aparecer. Foram tantos que o então secretário de Infraestrutura, Batista Neves, enviou vários relatório à chefa da Casa Civil, Eva Dal Chiavon, apontando as mazelas praticadas pela TWB e alertando para o perigo que a empresa representava para o patrimônio público.
Negligência e Incompetência – Não faltou só “agilidade” ao governo para a questão da TWB, como preferiu dizer Zé Neto. O governo negligenciou, foi conivente, irresponsável e incompetente para assumir de frente a situação. Deixou para intervir no sistema somente em setembro de 2012, com mais de seis anos de mandato do governador Wagner.
Quem entendia um pouquinho da situação, sabia que seria impossível reformar quatro dos sete ferries que foram sucateados em apenas três meses. Mas o governo preferiu jogar para a platéia e prometer sete embarcações operando desde o Natal. E os problemas continuam: somente três navios em tráfego, em pleno Verão. Um vexame.
Pelo menos, o deputado Zé Neto reconhece que a situação do ferry é dificílima e aconselha os usuários: “Utilizem a BR-101, a BR-324 e a BR-001. Estão em excelente qualidade e servem como alternativa para evitar os transtornos do ferryboat”.
O líder do governo acena com uma solução que vem aí para o ferryboat: a compra pelo governo de duas novas embarcações, cada uma para transportar 200 veículos.
Uma boa notícia, sem dúvida. Mas não basta só o governo investir dinheiro do cidadão em equipamentos e entregar o sistema a empresas sem capacidade para gerir o ferryboat, como aconteceu com a Comab, a Kaimi e a TWB. O governo tem que ser transparente, fazer uma licitação de respeito, séria e não de carta marcada, escolhendo concessionárias ao bel-prazer de alguns.
Isto tem que acabar. Essa história de se recorrer ao mercado de São Paulo para trazer ”gestores” para o ferryboat está muito manjada. Seria mais um ato condenável do governador Jaques Wagner autorizar a aplicação de milhões na recuperação da frota, comprar navios novos e entregá-los de mão beijada para esses espertinhos que vivem a mamar nas tetas da vaquinha do dinheiro público.