Se o gigante continua adormecido, outro pode ocupar seu lugar. Com o desempenho pífio da economia, o velho apelido do Brasil volta a assombrá-lo, mas desta vez outro país parece estar à espreita para assumir o posto de estrela ascendente da América Latina. É fácil adivinhar que nação é essa, afinal não começou ontem a disputa entre Brasil e México pelo título de maior economia da região — desde 1980, a troca de posições ocorreu seis vezes, com vantagem para a economia brasileira.
Nos últimos meses, analistas têm indicado que os latino-americanos do norte podem voltar a sonhar com o topo do ranking da região. Há até quem finque a data em 2022. O valor do PIB mexicano ainda é menos da metade do brasileiro. Mas, por mais que longínqua, a possibilidade de fim do reinado brasileiro na América Latina — iniciado, da última vez, em 2005 — é fortalecida por acertos do México e, principalmente, por erros e tensões no Brasil.
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Esta semana, o “Financial Times” sugeriu que o caminho para o desenvolvimento brasileiro é muito maior e mais complexo do que os investidores pensavam. Já a revista britânica “The Economist” ressaltou há dois meses o fortalecimento da indústria mexicana, contra um Brasil dependente demais da exportação de commodities.
Este ano, enquanto o IBGE anunciava, para surpresa até de pessimistas, um crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre, o México mostrava uma cifra cinco vezes maior, de 3,3%. Ao que tudo indica, o PIB mexicano deve crescer quatro vezes o brasileiro este ano — 4%, contra 1%.
Com uma política econômica mais aberta, que tem rendido frutos e parcerias, os mexicanos, porém, ainda têm muito que resolver nas próprias terras, como o enorme problema do narcotráfico. Contudo, há quem diga que é o Brasil, com um forte viés protecionista e uma economia de resultados ruins, quem está abrindo passagem.
— Não é que (os investidores) estejam fugindo. Mas a atratividade da economia brasileira e a entrada de estrangeiros, em relação aos vizinhos da América Latina, estão diminuindo. O governo ainda não entende que fechar o país como tem feito só vai prejudicar o crescimento de longo prazo — opina o economista Sérgio Vale, da MB Associados — O México se torna, sim, um candidato a ser a nova estrela da América Latina, pois tem um mar de reformas para serem feitas e desejo de seus governantes de fazê-las, além de estar próximo do mercado americano.
Para analistas, os resultados brasileiros — os sinais apontam que o país fechará o segundo ano de baixíssimo crescimento — refletem uma oportunidade perdida. Quando tudo era azul, antes da crise de 2008, o país perdeu a oportunidade de fazer as reformas necessárias ao ambiente econômico, como as mudanças tributárias e os investimentos em infraestrutura.
A flexibilização, aos olhos de especialistas, do tripé econômico — metas de inflação, metas de superávit primário e câmbio flutuante — tornou o país menos confiável aos investidores. Hoje, muitos não conseguem prever os movimentos da política econômica — como as bandas entre as quais o câmbio, flutuante, varia. Além disso, políticas de curto prazo, como alteração na cobrança de certos impostos, tornam o ambiente mais imprevisível. (O Globo)