JOSIAS DE SOUZA
O vídeo acima mostra uma passagem da campanha pela prefeitura de Salvador. Em comício de Nelson Pelegrino, candidato derrotado do PT, Dilma Rousseff fez troça da baixa estatura do antagonista ACM Neto, do DEM. “Aqui não pode ter um governinho, não pode ter um governo pequenininho. Aqui nós temos de ter um grande governo…” Atrás da presidente, um Pelegrino sorridente ergueu os braços para realçar sua altura. A cena foi levada à propaganda do PT na tevê.
Alçado pelo voto à condição de prefeito eleito, ACM Neto decidiu medir a grandeza de Dilma como gestora pública. O adversário do PT jantou na noite deste domingo (4) com o vice-presidente da República Michel Temer. Durante o repasto, ocorrido na casa de Temer em São Paulo, o neto do ex-senador ACM manifestou o desejo de encontrar-se com Dilma. Quer estabelecer com ela uma relação institucional. Recebeu do vice a sinalização de que a presidente deve recebê-lo.
O encontro de ACM Neto com Temer foi intermediado por Geddel Vieira Lima, que participou da conversa. Vice-presidente da Caixa Econômica Federal e principal liderança do PMDB da Bahia, Geddel aliou-se ao DEM no segundo turno da disputa pela prefeitura da capital baiana. Embora o PMDB seja parceiro do PT no plano federal, Geddel faz renhida oposição ao governo petista de Jaques Wagner.
Na semana passada, Temer comunicara a Dilma que receberia ACM Neto. Diferentemente do que chegou a ser noticiado, ela não opôs resistência. Nem poderia. Sob pena de desdizer-se. Noutro palanque de 2012, dessa vez num comício do petista Fernando Haddad, em São Paulo, Dilma dissera: “Jamais olhamos para a cor da camisa do prefeito ou do governador. Sempre, em todas as circunstâncias, nós garantimos recursos…”
Alvejado pelos adversários com a insinuação de que sua vitória submeteria Salvador a um torniquete financeiro, ACM Neto cuidou de expor a declaração de Dilma na sua propaganda (veja na peça abaixo). Eleito, ele se apresenta agora não como um prefeito do DEM, mas como futuro gestor dos interesses de todos os moradores de Salvador. E confia que Dilma não sonegará verbas federais à cidade.
Não há da parte do prefeito eleito a intenção de fazer de Temer seu interlocutor preferencial em Brasília. Não faria nexo. Equivaleria a desconhecer uma obviedade: é Dilma quem manda. Nesse contexto, o contato com o vice não foi senão um gesto político de aproximação. Coisa natural. Afora a aliança com o PMDB de Geddel, ACM Neto é amigo de Temer. Estreitaram relações na Câmara.
Afora os esforços para achegar-se a Dilma, ACM Neto planeja aproximar-se também do governador Jaques Wagner. O pano de fundo é o mesmo. O prefeito alega que, passada a eleição, sua obrigação é a de governar Salvador em parceria com as outras esferas de Poder, a estadual e a federal. Quer obter todas as verbas que os convênios puderem prover. (Blog do Josias)