Há 20 anos, o hoje candidato a prefeito de Salvador pelo PT, Nelson Pelegrino, era um dos mais raivosos integrantes da CPI que investigava na Assembleia Legislativa da Bahia a empreiteira OAS e suas ligações com o então todo-poderoso governador Antonio Carlos Magalhães, o ACM (1927-2007).
“Não nos parece que esses grupos econômicos, na sua história, deem alguma coisa a qualquer governante gratuitamente”, disse Pelegrino à época, ao afirmar que ACM usava aviões de empreiteiras.
Duas décadas depois, os papéis se inverteram. Na atual campanha, Pelegrino recebeu doação de R$ 850 mil da mesma construtora OAS, cujo maior acionista, Cesar Mata Pires, é tio de ACM Neto (DEM), seu principal rival na eleição do próximo domingo.
Mata Pires e a família de ACM romperam em 2008. Ele é casado com Teresa Magalhães, filha de ACM, que acionou a família pelo espólio do político, dono de um patrimônio estimado em cerca de R$ 30 milhões.
A briga se acirrou quando dois oficiais de Justiça, acompanhados por oito militares, entraram na casa da viúva de ACM graças a uma ação em que Teresa pediu o arrolamento de bens e obras de arte deixados pelo pai.
Em campanha, aliados de ACM Neto gostam de lembrar que a juíza que deu a liminar da busca foi Fabiana Almeida, da 14ª Vara de Família da capital, mulher de Pelegrino.
Na atual campanha, o petista recebeu a segunda maior doação da OAS, atrás apenas do petista Fernando Haddad (R$ 1 milhão), em São Paulo.
“Minhas contribuições estão feitas às claras. Quem faz qualquer ilação, além disso, tem que ter responsabilidade”, disse o petista à Folha.
“Sobre minha vida política, respondo pelo que fiz nela em todas as etapas, e no meu governo eu garanto que me relacionarei com todos.”
Ultrapassado por Pelegrino pela primeira vez na semana passada, quando pesquisa Ibope lhe deu 31% das intenções de voto, contra 34% do petista (pela margem de erro, estão tecnicamente empatados)–, ACM Neto se diz “pouco à vontade” para falar desse caso.
“Como envolvem questões familiares, prefiro me referir aos fatos objetivos. E os fatos são que a OAS é a maior doadora da campanha do PT e é a empresa que mais tem interesse com o PT em grandes obras no Estado”, afirmou.
Troca de papéis – Na Bahia, os papéis se inverteram não apenas na relação do PT com a empreiteira. No Estado, os petistas contam com o apoio de ex-carlistas como o vice-governador, Otto Alencar (PSD), e o ex-senador César Borges (PR).
Inversão de papéis também no lado de ACM Neto. O candidato promete ampliar na cidade o Bolsa Família, programa federal do PT, e se declara favorável a cotas nas universidades públicas, embora o seu partido tenha ido ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a ação.
“A despeito daquele processo do partido, sempre fui favorável às cotas, tanto que a Universidade do Estado da Bahia foi pioneira no país, no governo de Paulo Souto [DEM], em 2003”, diz. (Folha)