LUÍS AUGUSTO GOMES
Em ambiente dominical público pra lá de descontraído, repleto de crianças, um ouvido indiscreto prestou mais atenção ainda quando uma delas perguntou ao prefeito João Henrique: “Você vai votar em Neto ou Pelegrino?”
Sorrindo muito, e certo de que o diálogo entre ele e o garoto não era captado, o prefeito foi claro: “Em Neto”.
Um segredo que todos sabiam – A resposta mostra uma realidade elementar, apesar de todo o debate sobre o tema no horário eleitoral dar a impressão de que é coisa mal resolvida.
Neto votou em João Henrique no segundo turno de 2008, e ao lançar-se agora candidato evitou críticas ao prefeito, chegando a dizer numa entrevista, em setembro do ano passado, que “muitos torciam”, mas ele não iria “brigar” com João.
Por outro lado, o movimento oficial que marcou essa aliança foi a coligação do DEM com o PTN, presidido no Estado pelo deputado João Carlos Bacelar, primeiro-secretário do prefeito.
Sem referências ao prefeito – A efervescência da campanha obrigou Neto a fazer duras críticas à administração, o que, afinal, é um ponto comum entre todos os candidatos.
Mas, no caso dele, foi preservada a figura pessoal de João Henrique, que possivelmente não teve o nome citado uma única vez em seus programas no rádio e na TV.
Somente quando indagado direta e objetivamente sobre a questão, em entrevistas ou debates, é que Neto se referiu a João, ainda assim mansamente e sempre dizendo que todos os partidos adversários fizeram parte do governo municipal.
PT entrou pensando em sair… – Essa ligação preferencial Neto-João, no entanto, não apaga a responsabilidade que o PT, especialmente representado por Pelegrino, teve na administração municipal, não interessa agora se no primeiro ou no segundo mandato, como se tenta distinguir.
Ainda em maio deste ano, como se não existisse passado, era o próprio Pelegrino, muito fraco nas pesquisas e precisando de qualquer apoio, quem dizia: “Todo mundo está atrás da adesão de João Henrique”.
O PT foi participante num primeiro momento, mas era um aliado que articulava francamente uma candidatura à sucessão. Questionado sobre a contradição, deu sinais de afastamento, ante o fracasso da gestão do prefeito após os dois anos iniciais.
…e entrou para sair novamente – Entretanto, a administração municipal ganhou novo alento com a entrada de João Henrique no PMDB, levando o PT a propor uma “repactuação”, comandada pelo então deputado Walter Pinheiro, com a qual o partido avançou em muitos cargos da Prefeitura.
Imaginou-se que a situação política estava contornada, pois até o governador Jaques Wagner se referia à candidatura de João Henrique à reeleição como “natural”.
O fim da história, todos conhecem: em abril, prazo-limite, os petistas desincompatibilizaram-se dos cargos que ocupavam e anunciaram a disposição de ter no pleito de outubro de 2008 uma candidatura, que viria a ser a do próprio Pinheiro. (Por Escrito)