LUÍS AUGUSTO GOMES
O discurso do candidato a prefeito Hamilton de Assis (PSOL) lembra o que ele de fato é: um petista do passado, com teor ideológico, propostas politicamente avançadas, identificado com causas populares autênticas e, sobretudo, disposto a “combater as máfias” que tomam conta do dinheiro público.
Se Hamilton manteria tal postura no futuro, caso seu partido, assim como o PT, cresça e chegue ao poder – e ele for um dos seus grandes líderes –, não é caso para ter certeza. Mas as palavras convincentes que ele vem dizendo com propriedade e boa emoção no programa eleitoral certamente o levarão a ter na eleição mais votos que as pesquisas vêm prevendo.
A decepção que o PT causou em grande parte do povo brasileiro, que tem um símbolo na já confirmada condenação pelo Supremo, no caso do mensalão, de uma de suas figuras mais expressivas, não é forte o suficiente para matar no coração de uma sociedade o anseio por justiça social que permanece esquecido.
O Estado e seu papel de reduzir o abismo – Hamilton mostra que conheceu e tem saudade do tempo em que o Estado prestava mais responsavelmente o serviço público, não havia sido tomado de assalto pela iniciativa privada, que tudo executa em seu nome, das grandes obras de engenharia à limpeza de sanitários das repartições, sempre com sacrifício do Erário e, muitas vezes, dos direitos trabalhistas.
Houve uma época no Brasil, mais antiga ainda que Hamilton, em que o empresariado nacional era fraco e descapitalizado, não podia participar de projetos como a Vale do Rio Doce, Eletrobrás, Petrobras e, mais recentemente, do sistema de telecomunicações enfeixado na Telebrás. Hoje, é proprietário de alguns desses empreendimentos e tem dinheiro na mão para comprar o que se oferecer.
Quando se fala em “solucionar os problemas do povo”, fala-se em tudo, menos no que realmente importa: a concentração de riqueza e o abismo social só aumentam no Brasil. Alguma fórmula efetiva deverá ser concertada não para equilibrar, mas para amainar a brutal diferença entre os termos dessa equação. Isso, hoje, é ideologia, e nela está o cerne do discurso do PSOL.
Voto útil – Não deixa de haver, entretanto, o segmento dos “ideológicos tolerantes” – aqueles que, mesmo preservando antigos dogmas e princípios, vão, pragmaticamente, procurar um candidato que possa vencer e tirar Salvador desta triste quadra. (Por Escrito)