AUGUSTO NUNES
Por que os ministros togados falam tanto? Na Corte Suprema dos Estados Unidos, por exemplo, os votos dos juízes são medidos em minutos. Aqui, duram horas ou dias, como atesta o julgamento do mensalão. E por que muitos integrantes do Supremo Tribunal Federal falam um dialeto sem parentesco com língua de gente?, intrigam-se os espectadores da TV Justiça que acompanham o desfecho do processo mais importante da história.
Por que teimam em atormentar a imensidão de leigos com a aflitiva mistura de verbos que ninguém conjuga, citações de sumidades que ninguém conhece, substantivos de fraque e cartola, adjetivos de polainas, tudo temperado com latinório de missa antiga? Por que o time dos doutos, insignes e preclaros se recusa a ir direto ao ponto, a contar o caso como o caso foi, a descrever as coisas como as coisas são? Por que tantos circunlóquios, ademanes e rapapés farisaicos? Por que tão frequentes passeios pela floresta impenetrável dos artigos, parágrafos e incisos?
Por que perder a oportunidade sem precedentes de mostrar aos nativos sem toga como funciona a Justiça em sua última instância, como são os homens que julgam sem direito a recurso, como se chega a uma decisão, de que modo nasce uma sentença? Sobretudo, por que jogar fora a chance de explicar aos milhões de interessados, com a concisão possível e a indispensável objetividade, o que foi exatamente o mensalão?
Para melhorar a vida dos espectadores que se esforçam para entender o que dizem, o elenco no palco do STF precisa reduzir a frequência dos surtos de vaidade, não amar tão perdidamente o som da própria voz, tratar os brasileiros comuns com mais compaixão e com menos clemência a bandidagem da classe especial. Não é pedir muito. E é tudo o que a plateia quer. (Coluna do Augusto Nunes)