LUÍS AUGUSTO GOMES
Para quem suportou três meses, o presidente Marcelo Nilo poderia, a esta altura, estender sua paciência e tentar até vencer pelo cansaço os professores grevistas que ocupam a Assembleia Legislativa, porque, certamente, eles lá não irão permanecer o resto da vida.
Jamais tomar a decisão de pedir à Justiça a reintegração de posse, após a recusa dos professores de deixarem o local, pois assim nega seu discurso de que a Casa é do povo e que sua gestão acolheu diversos segmentos de ocupantes nestes últimos cinco anos e meio, a exemplo dos sem-terra e dos indígenas.
A situação é diferente do recurso ao Judiciário no início do ano, quando o prédio foi tomado durante 12 dias por policiais militares igualmente em greve, armados, inviabilizando o funcionamento da Assembleia e tendo como inspiração atos de vandalismo praticados nas ruas, o que levou à população insegurança quanto a sua integridade física e patrimonial.
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Assembleia votou as leis do salário e da carreira – Os professores, de outro lado, fazem ordeiramente seu protesto, numa área da Casa que pode ficar isolada por uma causa justa sem acarretar problemas administrativos.
Vale ressaltar que eles estão desde abril no principal salão de eventos da Assembleia porque é o Poder que melhor os representa como cidadãos e, afinal, as leis contra as quais se insurgem e que consagram sua realidade salarial e de carreira foram votadas pelos deputados estaduais.
Há transtornos inevitáveis com a ocupação, como consumo de água e luz, mas é um custo baixo para a democracia, como disse o próprio Nilo sobre o prejuízo dado pela Polícia Federal ao danificar portas e fechaduras de mais de 100 salas após a saída dos PMs, em fevereiro.
Medida reacende fogueira dos docentes – Um dos aspectos apontados pelo presidente para entrar com a ação na Justiça foi o que ele chamou de “politização do movimento”, o que se supõe ser uma preocupação com o impacto negativo para o governo que a greve tenha nas eleições municipais.
Entretanto, ante a determinação dos professores de resistir a uma eventual ordem de desocupação, transmitida a Por Escrito pela professora Ana Teresa, do comando de greve, as consequências poderão até agravar a situação.
Por essa lógica da influência eleitoral, melhor seria que a medida tivesse sido tomada no primeiro dia, quando estávamos a seis meses do pleito, tirando dos professores uma vitrine que tem sido fundamental ao movimento. Agora, ela só inflama uma questão que já havia causado o máximo estrago possível.
Ameaça à reeleição – As decorrências políticas da atitude de Nilo se manifestaram imediatamente. No campo institucional, após reunir a bancada, o líder da oposição, Paulo Azi (DEM), disse que a expulsão dos professores não será aceita e sugeriu que o presidente “use seu poder para que a Comissão de Educação da Casa abra a caixa-preta do Fundeb”, que teria recursos para atender à reivindicação da categoria.
“O presidente da Casa deveria também convencer o governador Jaques Wagner a atender as justas reivindicações dos professores”, destacou Azi, alertando que, caso a tentativa de expulsão se confirme, ele convocará “todos os parlamentares de oposição para irem à Assembleia se posicionar ao lado dos professores contra qualquer medida de força”.
Por outro lado, brota uma semente que pode dificultar a chegada de Nilo ao quarto mandato à frente da Casa na eleição de fevereiro próximo. O deputado Bruno Reis (PRP) defendeu o afastamento definitivo dos 18 oposicionistas do projeto de reeleição do presidente. “Atitudes como essa demonstram mais uma vez a sua subserviência ao governo”, disse.
Mensagem fardada – A determinação do presidente de retirar os professores da Assembleia pôde ser aferida logo no início, quando foi dado prazo até as 17 horas para a saída voluntária: a comunicação foi levada aos grevistas não, por exemplo, pelo superintendente administrativo, mas por representantes da Assistência Militar. (Por Escrito)