Quatro meses antes de vender a casa que, segundo a Polícia Federal, foi paga com cheques de parentes do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o governador de Goiás, Marconi Perillo, quitou um financiamento de R$ 348 mil que havia feito com a Caixa Econômica Federal (CEF), em 2006, quando adquiriu o imóvel. Concluída em março de 2011, a quitação, feita em pouco mais de quatro anos dos 15 previstos no financiamento, ainda não está devidamente esclarecida e foi citada pelo delegado Matheus Mella Rodrigues em depoimento na CPI do Cachoeira.
Em 2010, a declaração que Perillo apresentou à Justiça Eleitoral não lista recursos ou aplicações para saldar a dívida. Procurada, a assessoria do governador, primeiro, informou que tudo estava registrado na declaração de Imposto de Renda apresentada este ano à Receita Federal. Indagada se poderia apresentar a declaração, a assessoria se limitou a dizer que a quitação foi feita com a venda de bens e empréstimos. Mas não informou quais bens foram vendidos, o valor do empréstimo e de quem foi tomado.
Perillo comprou a casa no luxuoso condomínio Alphaville em 22 de novembro de 2006, de acordo com certidão de matrícula registrada no 4º Cartório de Goiânia. Na época, de acordo com os documentos, pagou R$ 202 mil com recursos próprios e financiou R$ 348 mil. O imóvel custou R$ 550 mil e foi adquirido do casal Waldir Lourenço de Lima e Maria Inês Nunes.
O financiamento foi feito com a Caixa Econômica Federal. O prazo para pagamento da dívida foi de 180 meses (15 anos), e as prestações mensais foram de R$ 6.709,82, pelo Sistema de Amortização de Crédito (SAC), pelo qual o valor é reduzido minimamente mês a mês. O vencimento da primeira parcela, ainda de acordo com os documentos, foi em 13 de dezembro de 2006.
Em 30 de março do ano passado, a CEF deu autorização para o cancelamento do financiamento e da hipoteca. O pagamento da dívida, segundo a Caixa, ocorrera em 18 de março de 2011. A venda da casa para a Mestra Administração e Participação se deu em 13 de julho do mesmo ano. Ao GLOBO, Perillo disse que, “pela informação de que disponho, a acionista majoritária desta empresa é uma filha do professor Valter Paulo, que já declarou ter sido ele o comprador da casa”. Porém, na escritura do imóvel, o único sócio que aparece é Écio Antônio Ribeiro. E quem estava morando na casa era Carlinhos Cachoeira, que, inclusive, foi preso nela no dia 29 de fevereiro.
Dias antes de Marconi quitar o débito com a CEF, a Polícia Federal captou um diálogo entre o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e Carlinhos Cachoeira. A conversa ocorreu dia 2 de março, às 21h, e durou menos de um minuto. O senador diz a Carlinhos que precisava falar com ele ou com Wladimir Garcez, ex-vereador em Goiânia e braço-direito do contraventor. Demóstenes diz que se trata de um recado de Perillo para Cachoeira, mas não dá mais explicações. Garcez foi o intermediário da venda da casa do governador. (Chico de Gois e Roberto Maltchik/O Globo)