O caos que acontece hoje no sistema ferryboat, operado pela concessionária TWB, poderia ter sido evitado se houvesse boa vontade e atitude do governador Jaques Wagner.
Desde março de 2007, dois meses depois de sua posse, Wagner e sua equipe começaram a ser alertados sobre a situação real e complicada da TWB, concessionária trazida para a Bahia pelo então governador Paulo Souto.
Em entrevista exclusiva ao JORNAL DA MÍDIA nesta terça-feira (19), o ex-secretário de Infraestrutura foi taxativo:
“O governo sabia de tudo. Mensalmente entregávamos à secretária Eva Chiavon, da Casa Civil, um relatório sobre a situação. E semestralmente a Casa Civil recebia um relatório completo. Foram vários diagnósticos, mostrando que a TWB só se interessava em faturar. É normal que uma empresa privada vise o lucro. Mas é obrigação que em contrapartida ofereça um serviço de qualidade ao povo, como está previsto no contrato de concessão”.
Batista Neves revelou que um dia disse ao governador Jaques Wagner:
“Se o senhor quiser eu passo por cima da TWB”.
O “passar por cima” seria na época, lembra Batista Neves, a intervenção do Estado na concessionária. Wagner recuou. Batista entendia, como todo mundo sabe, que o contrato de concessão entre o Estado e a TWB é unilateral e que só beneficia a concessionária.
“Mesmo assim (com o recuo de Wagner) não desisti. Chamava os donos da TWB e dizia: ou vocês tomam jeito, ou dão manutenção aos navios colocando-os para operar, ou vou fazer intervenção. Eles se viravam, melhoravam um pouco e depois começavam a falhar de novo”.
Batista Neves diz que quando assumiu a Seinfra em janeiro de 2007 encontrou o sistema ferryboat operando com apenas “dois ferries e meio”. Dois estavam operando normalmente e um trafegava a meio pau. Disse que o governo sempre honrou os compromissos contratuais, apesar de o contrato ser unilateral e até conseguiu financiamento para a TWB construir o “Ivete Sangalo”.
“Nós pressionávamos a TWB, que alegava que não tinha estaleiro aqui para fazer manutenção dos navios. Imaginem. Fomos atrás de alternativa e encontramos um estaleiro em Aracaju e exigimos que a concessionária fizesse a docagem dos navios em Sergipe. Foi assim que foi feito até setembro de 2009, quando deixei a Seinfra. Hoje parece que a manutenção acabou. Só dois ferries funcionando ou três na Semana Santa realmente não existe”, observou Batista Neves.
Com a pressão, o governo, através da Seinfra, conseguiu que a TWB colocasse um dia todos os seis ferries da frota em tráfego. Os navios enferrujados, pelo menos foram pintados e não passavam a imagem de abandono que passam hoje. Parecem embarcações africanas antigas conduzindo os pobres baianos pelo belo mar da Baía de Todos os Santos.
O ex-secretário de Infraestrutura fala com conhecimento. Ele sabe que a estratégia anunciada pela Agerba, hoje, de anunciar ter multado a TWB em mais de R$ 190 mil, na prática não funciona.
“A TWB entra sempre com recurso e acaba não pagando nada. Ninguém multou mais a TWB do que eu, entre 2007 e 2009 e não tinha resultado. A TWB só ficava um pouco temerosa quando ameaçávamos romper o contrato. Um dia eles estavam querendo um aumento absurdo de tarifa e queriam acabar com a Tarifa Social (“Tarifa Povão”). Eu disse: se vocês não respeitarem o contrato, vocês vão ter que sair do sistema na raça”.
Na semana passada, por incrível que pareça, a Agerba, em portaria assinada pelo diretor executivo Eduardo Pessoa, reeditou uma resolução que tinha sido cassada em 2007 pelo governador Jaques Wagner. Essa resolução limita o benefício da “Tarifa Povão”, atrelando-o ao beneficia do Bolsa Família. O contrato de concessão não diz isso, mas a agência resolveu atender a concessionária. A medida significa o fim da “Tarifa Povão”.
Batista Neves conta mais sobre a relação do governo com a TWB. Diz que quando a TWB falou em remotorizar o ferry “Maria Bethânhia”, ela queria comprar no mercado motores por R$ 6,5 milhões. “Nós não concordamos e encontramos os mesmos motores a R$ 3 milhões. Se deixar, a TWB joga como quer. Foi sempre assim”.
O ex-secretário de Infraestrutura tem também suas historinhas sobre o comportamento nada elogiável dos dirigentes da TWB.
“Um dia fui sozinho e de surpresa ao Terminal de São Joaquim e entrei em um sanitário do navio e comprovei que o quadro era horroroso. Deixei a embarcação e chamei um diretor deles (Batista não citou o nome). Voltei ao ferry, mandei ele entrar no sanitário, fechei a porta e disse: está gostando do cheiro? Então fique aí”.
Foi visitando o sanitário do navio que o ex-secretário de Wagner comprovou o motivo tão alegado pela TWB para a detonação de tantos vasos sanitários. A situação caótica dos equipamentos causava repúdio e em represália os usuários reagiam quebrando os vasos.
Batista Neves classifica assim o dono da TWB, Reinaldo Pinto dos Santos:
“É um escorregadio. Eu nunca recebia os donos da TWB sozinho, sempre tinha minha equipe por perto, porque se esse ou aquele viesse com coisa de pressão, de mostrar “prestígio”, todos da mesa iriam saber”.
Ex da Agerba na TWB – O dono “sabonete” da TWB um dia tentou emplacar um ex-diretor da Agerba como diretor da TWB.
“Houve realmente isso. A TWB queria colocar como seu diretor, na Bahia, Kleber Nogueira, que foi diretor de Pesquisas e Tarifas da Agerba. Eu liguei na mesma hora e disse: pode tirar agora porque o governo não aceita. Isso é antiético. Seria o mínimo imaginar que esse ex-diretor da agência que fiscaliza a TWB pudesse de alguma forma influenciar dentro da Agerba ou utilizar os seus conhecimentos para favorecer a TWB”, sustentou Batista Neves.
A renovação da frota de ônibus do sistema intermunicipal de transporte foi um exemplo citado por Batista Neves para comparar com o desserviço da TWB:
“Quando se quer, se faz. O governo fez a sua parte, melhorou as estradas, deu o aumento de tarifa previsto no contrato, e os empresários responderam. Foram mais de 1,2 mil novos ônibus adquiridos e incorporados à frota das empresas, que investiram pesado porque sabiam que o usuário precisava ser melhor atendido. Agora, só querer faturar, não dá certo”.