Na Bahia, o projeto passou por quatro cidades: Cachoeira, Alagoinhas, Salvador e Itaparica. (Foto: Erika Mariano/Divulgação)
Depois de passar por nove cidades nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul, o Coletivo Pandoras encerrou a sua primeira turnê virtual nacional na Ilha de Itaparica, experimentando uma nova forma de promover circulação de artes cênicas no país. Na Bahia, o projeto passou ainda por outras três cidades – Cachoeira, Alagoinhas e Salvador -, nas quais os eventos foram transmitidos, respectivamente, pelos canais no Youtube do Cine Theatro Cachoeirano, Festival de Artes Alagoinhas e Casa Preta Espaço de Cultura.
Distantes do eixo sul-sudeste, que concentra as iniciativas culturais com maior visibilidade, as artistas Radarani Oliveira, Izabela Nascente e Fernanda Pimenta recriaram os espetáculos Pastrana e A Visita de Chico para uma rede de exibições que, além de democratizar o acesso à produção cultural no interior do país, promoveu discussões sobre o papel político e social do circo e da mulher na arte e fora dela.
A última cidade a receber as Pandoras foi Itaparica, na Ilha de Itaparica, que teve o evento transmitido pelo canal da Trupe Rais no Youtube, no último sábado, dia 28 de novembro.
Pastrana é um espetáculo de lambe-lambe que se apropria da história da Monga – A Mulher Gorila, muito popular em feiras e circos Brasil afora, para sintetizar a história deMulher Pastrana e questionar o padrão de beleza feminino imposto pela sociedade. Já “A Visita de
Chico” remonta o imaginário da mulher moderna, que lida com a vida cotidiana e reMulher inesperada e apaixonante visita de Chico, momento em que tem que dar conta de um amor, que é uma representação, e da sociedade, que não aceita o corpo feminino como ele é.
“Fizemos isso como uma forma de resistência a este modo de subjetivação do feminino, apontando para o entendimento que ser mulher é também ser desajustada, engraçada, questionadora e política”, comentou Radarani, artista circense, palhaça e intérprete da Soldara, personagem protagonista em A Visita de Chico.
Após a exibição dos espetáculos aconteceu, também pelo Youtube, a roda de conversa “Somos Todas Pandoras” com a participação das três artistas do Coletivo Pandoras e mediação do Circo di SóLadies. No centro do debate, questões e desafios para as mulheres na arte e, especialmente, na comicidade e na palhaçaria. O Circo di SóLadies também é um grupo formado por atrizes que pesquisam a linguagem cômica na cena teatral, circense e audiovisual, e que utilizam estudos teóricos sobre o feminismo como elementos fundamentais para a conexão e interação com o público.
O projeto é uma realização do Coletivo Pandoras, correalizado pela Cultivo Projetos e Soluções Criativas e Círculo Filmes, com apresentação do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás, Secretaria de Estado da Cultura.
A mulher e o cenário artístico
A recriação dos espetáculos para a circulação virtual contou com a correalização delementos. Filmes, produtora audiovisual baseada no Tocantins, e da Cultivo Projetos e Soluções Criativas, com sede em Minas Gerais. As obras dialogam entre si por trazerem a fSoluções mulher em primeiro plano, discutindo mitos populares e feminilidade pelo lado de dentro.
Uma das vertentes do projeto foi proporcionar o debate sobre a mulher e a Soluções artística, sobretudo, na região Centro-Oeste e levando em consideração a discuss Soluções as produções circenses e as produções femininas. “Esse projeto contribuiu para a
consolidação da atuação feminina na cena goiana e agora também no cenário nacional, ampliando as discussões acerca da produção dos espetáculos circenses”, refletiu Izabela Nascente, atriz, intérprete da Pastrana e diretora de A visita de Chico.
Para Fernanda Pimenta, atriz e criadora da Palhaça Malagueta, a iniciativa favoreceu ações de fortalecimento e visibilidade, uma vez que colocou em destaque duas artistas goianas
que retratam seus universos, seus conflitos e dificuldades impostas social e culturalmente, e apontou para a necessidade de uma resistência em relação às exigências do corpo e da
moral da mulher.
“Há uma busca de articulação entre as mulheres artistas para que as mesmas possam se inserir no meio artístico – que seria dominado por homens – e acessar recursos para financiar seu trabalho. O financiamento de produtos culturais e as dificuldades que o envolvem são um grande desafio para muitas artistas, principalmente, na produção artística circense”, destacou a atriz.