A diminuição dos gastos com serviços e a alta digitalização dos negócios durante a pandemia do novo coronavírus criaram a equação para uma Black Friday histórica em 2020. É essa a previsão das principais empresas de análise de mercado consultadas sobre a data comercial.
Reportagem do Portal G1 deste sábado (21) informa que a Neotrust/Compre&Confie estima que a Black Friday deste ano será 77% maior que a do ano passado, com quase 11 milhões de pedidos e R$ 6,9 bilhões em faturamento. A Ebit|Nielsen é mais conservadora e acredita em uma alta de 27% nas vendas comparadas a 2019.
Black Friday: lojas antecipam preparativos para aproveitar mudanças causadas pela pandemia
A data sempre foi um marco das vendas digitais e promete ser uma prova de fogo do e-commerce brasileiro em ano de pandemia. O efeito das restrições às lojas físicas farão crescer em 70% o comércio eletrônico neste ano, segundo projeção da Neotrust. E o movimento não se limitou aos grandes varejistas, já que pequenas e médias empresas também tiveram 118% de crescimento de faturamento online apenas entre fevereiro e agosto.
“A pandemia deu resposta brusca a quem acreditava que poderia viver só no varejo físico. O modelo de sucesso é integração total, seja para utilizar loja como showroom ou ponto de coleta de produto”, diz André Ricardo Dias, CEO da Neotrust/Compre&Confie.
Ainda que a digitalização tenha sido intensa nos últimos meses, a Black Friday, em anos anteriores, chegava a concentrar quase 20 dias da atividade de um e-commerce em dia normal. Neste ano, a Neotrust estima que o tráfego será por volta do dobro.
Quem aposta na data para recuperar um pouco do faturamento perdido na pandemia precisa escolher entre acertar um esquema difícil de logística para atender bem ou partir para os marketplaces, como são chamadas as lojas virtuais hospedadas em sites de grandes varejistas.
Na última pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre 27 e 31 de agosto, 67% dos pequenos negócios disseram que estavam vendendo por meio das plataformas digitais. E 16% dos que ainda não vendiam pela internet iriam adotar a prática em breve.
Fernanda Micelli, dona da empresa O Tal do Congelado: uma das três lojas físicas pode ser fechada para priorizar recursos para vendas digitais. — Foto: Arquivo pessoal
Fernanda Micelli, dona da empresa O Tal do Congelado: uma das três lojas físicas pode ser fechada para priorizar recursos para vendas digitais. — Foto: Arquivo pessoal
É o caso da empresária Fernanda Micelli. Dona de uma rede de lojas de alimentos congelados, estruturou um rodízio entre suas cinco funcionárias e deu prioridade ao delivery. Das três lojas na zona sul de São Paulo, Fernanda decidiu fechar duas em março por conta da pandemia.
A marca tinha um site apenas para exibição, mas passou a servir de vitrine digital de produtos. Junto, há um cardápio digital em que o cliente seleciona o prato que deseja. A escolha gera um link para que o cliente entre em contato com uma das lojas por WhatsApp.
“As vendas pelo aplicativo cresceram muito durante a pandemia. Por isso, contratamos também um serviço que gerencia números de celular, salva contatos de clientes e transfere conversas de uma loja para outra”, diz Fernanda.
O delivery passou de 30% para 60% do faturamento da empresa. E, comparado ao período pré-pandemia, as vendas aumentaram 30%. O resultado promissor a faz cogitar o fechamento de uma das unidades físicas em 2021.
O WhatsApp, inclusive, é o modo preferido entre as pequenas e médias empresas para articular as vendas, segundo o Sebrae. Em seguida, vêm redes sociais, como Facebook e Instagram. Mas a maioria dos empreendedores trabalha com uma digitalização mais simples dos negócios, sem automação.
“Os marketplaces também cresceram demais, mas é para uma empresa que já se estruturou um pouco mais, porque tem que atender o Brasil inteiro. Boa parte só atende a região”, afirma Cesar Rissete, gerente de competitividade do Sebrae.
Sabendo da preferência e tentando se agarrar ao público, o WhatsApp tenta trazer uma plataforma de pagamentos para dentro do sistema.
O WhatsApp Pay chegou a ser anunciado em junho, fechada uma parceria com a Cielo, mas foi impedido de operar pelo Cade e pelo Banco Central para que se montasse uma adequação ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Segundo o BC, o prazo final para decidir os pleitos relacionados ao WhatsApp Pay expira em meados de julho de 2021.
No final de outubro, a empresa tentou um novo caminho: oferecer um recurso de finalização de vendas dentro das conversas do aplicativo. Versões comerciais do app terão disponível um botão de compra para que os usuários saibam que a empresa oferece um catálogo.
“No futuro, também será possível adicionar itens ao carrinho, finalizar a compra e, por fim, pagar diretamente no aplicativo”, informou a empresa em nota ao G1.
Quem aposta nos marketplaces precisa ter confiança no sistema das plataformas digitais. Exemplo de falha de sistema foi a queda do serviço da empresa de entregas iFood no último Dia dos Namorados.
Sem operar os pedidos, restaurantes perderam oportunidades ao longo de toda a noite do dia 12 de junho, quando o isolamento social era mais rígido e a dependência dos app para um bom faturamento era ainda maior. Procurada, a empresa não comentou o incidente.
O Sebrae incentiva que o empreendedor faça uma diversificação de plataformas, para que o empresário não fique preso a um único aplicativo ou loja virtual.
“Essa pulverização vale tanto pelo poder de concentração das plataformas, que podem elevar as taxas cobradas e corroer muito o retorno para o empresário, como por falhas do sistema mesmo”, diz Cesar Rissete, do Sebrae.
As grandes varejistas garantem que estão prontas para o tráfego intenso, tanto para atender aos parceiros como para vendas próprias.
O primeiro movimento foi antecipar as campanhas e ofertas de Black Friday para dissipar o movimento concentrado na data. Serve para não repetir quedas de sistema no digital, mas também para evitar aglomerações nas lojas físicas. Os descontos, inclusive, já podem ser encontrados nas lojas e parte deles até termina antes da data, 27 de novembro, para que interessados acelerem a compra.