Depois de fazer seu nome na política, aos 81 anos, Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, ainda sente o coração bater mais forte ao falar da profissão que o colocou em evidência e também o instigou, desde jovem, a ser militante e, consequentemente, prisioneiro durante 13 anos. E é justamente esse amor que ele deixou em evidência no Conversa com Bial desta sexta-feira (5).
“A política está doente do mesmo que a sociedade. Se você se ilude achando que vai enriquecer na vida e isso se transforma também para a política, estamos fritos.”
Para o ex-presidente, governar tem que ser um ato de amor. “Tem que ter interesse de carinho humano, de reconhecimento humano. A política não pode ser instrumento para comprar riqueza. E tem que ser um instrumento para costurar o amor social.”
Simples e sentado num banco de madeira de seu sítio, Pepe Mujica contou ao apresentador Pedro Bial que não pensa mais em se candidatar, mas que se fizesse isso, certamente, levaria a eleição. “Mas serei militante até o caixão, se puder”, enfatiza.
Avesso a era do consumismo, o político alerta ainda sobre a importância de valorizarmos os momentos, as pessoas. “Há outra coisa mais bonita que o consumo: o tempo com os filhos, os afetos. Ter tempo para cultivar os afetos, que é o único que levamos. Se sou uma máquina de trabalhar, consumir e pagar contas, quando acordo, vou me dar conta: foi nisso que me transformei? Não há supermercado de vida.”
Aos que acham que ele faz tipo por cultivar a simplicidade, ele ainda deixa um recado: “Podemos ser felizes com pouco. Não faço apologia da pobreza. O que faço é a apologia da sobriedade. Aprender a viver sem ser escravo, sobretudo na política.” Interessado no português de Bial, Mujica destaca ainda o carinho pela língua. “Português é um castelhano mais suave, mais doce.” E não deixa também de falar da política brasileira. “Temos que falar do Brasil. Ele está doente.” (GloboShw/TV Globo)