Será aberta nesta terça-feira (24), no Palacete das Artes, na Graça, a videoinstalação Doze Pinturas Negras. Trata-se de um projeto audiovisual do artista Ángel Haro, que promove uma dramatização de doze das Pinturas Negras do renomado pintor espanhol Francisco de Goya. A mostra é uma realização do Instituto Cervantes de Salvador, que está comemorando dez anos de atividades na capital baiana. A entrada é gratuita.
Francisco de Goya representa um marco na história da pintura. Como pintor da Corte Real Espanhola, criou trabalhos excepcionais que influenciaram diretamente o movimento Impressionista. Suas Pinturas Negras, no entanto, vão além no que diz respeito à técnica e à temática. Além de marcarem o início do Surrealismo e Expressionismo do século XX, expõem o clima sociopolítico da Espanha de então ao explorar a psiquê e os conflitos internos e externos do país. Em sua obra, Goya revelou fatos que não faziam parte do discurso oficial espanhol, descobrindo, assim, novo uso para sua arte: a pintura enquanto forma de denúncia.
As Pinturas Negras desafiaram o regime político da época e, ao sobreviverem à Inquisição e se tornarem patrimônio cultural contemporâneo, simbolizaram um grito que não é facilmente silenciado. Nascidos da condição isolada do artista em sua Quinta del Sordo, nos arredores de Madri, os conflitos internos de Goya não eram independentes da circunstâncias políticas que o cercavam. Com o fim do Iluminismo e a volta do regime Absolutista, sua loucura é, também, a loucura de seu tempo. Justamente por estar no limite da própria sanidade, Goya pode retratar os horrores do regime de Fernando VII através da representação de seu próprio horror.
Cinquenta anos após a partida de Goya para a França, em 1874, o barão Emile d’Erlanger, novo proprietário da Quinta del Sordo, comissionou o francês Jean Laurent para fotografar os murais que adornavam várias das salas da propriedade. Essas fotografias, cujos negativos em vidro originais estão atualmente sob os cuidados do IPCE (Instituto do Patrimônio Cultural da Espanha), serviram de guia para transferir os trabalhos para a tela, possibilitando, assim, a restauração posteriormente feita por Salvador Martínez Cubells.