REINALDO AZEVEDO (*)
É claro que não vou desistir de pegar no pé de Rodrigo Janot, que tomou a incompreensível — ou muito compreensível? — decisão de pôr fim à delação de Léo Pinheiro. A menos que ele nos conte o que aconteceu, não é mesmo? Informa a coluna “Radar”, de VEJA.com, que ele devolveu o material da delação à defesa do empreiteiro e mandou para o triturador de papel o que estava no Ministério Público.
A coisa vai ficando sempre pior. VEJA reitera que o documento em que era citado o nome de Dias Toffoli como eventual alvo de uma delação circulou no Ministério Público, não ainda como um anexo formal. Janot diz que o papel nunca existiu, o que o levou a empregar a expressão “estelionato delacional”.
É mesmo?
Tudo indica que se está diante de uma coisa muito grave. A gente pode intuir que existe um Ministério Público Federal oficial e um Ministério Público Federal do B… Ora, o órgão acusador e investigador não pode abrigar um porão. E Janot não pode se comportar como se fosse um monarca absolutista das delações. Qual é o critério?
Calma lá! Júlio Camargo não admitiu ter mentido em sua delação? Negou que tivesse feito pagamentos para Eduardo Cunha e voltou atrás depois. Punição? Nenhuma! “Ah, é que ele se dizia ameaçado…” Pouco importa. Por que esse comportamento agora de Janot?
Se Toffoli e os demais ministros do Supremo estivessem fazendo carga contra a investigação, vá lá… Poder-se-ia desconfiar que a operação busca proteger um membro do tribunal. Mas a verdade está no contrário: Gilmar Mendes reagiu com uma dureza inédita. E está defendendo a manutenção do acordo de delação.
Infelizmente, acho que se tocou em algo bastante feio e perigoso. Alguns “savonarolas” do Ministério Público Federal começaram a se achar a voz de Deus. Além de decidir fazer política, começaram a se mover também nas sombras e nos porões para “limpar o Brasil”, nem que seja ao arrepio da lei.
Isso nunca dá certo! A decisão de Janot entra como uma grande mácula da Lava Jato.
E ajuda a bandidagem, queira ele ou não.