O Jornal Nacional teve acesso aos depoimentos ao Ministério Público paulista de um empresário e de um arquiteto que trabalharam na reforma do sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Lula. Os depoimentos ligam o sítio ao pecuarista José Carlos Bumlai, que foi preso na Operação Lava Jato.
O texto levado ao ar ontem pelo Jornal Nacional, na íntegra, é o seguinte:
”Um sítio do tamanho de 24 campos de futebol, com piscina e lago, cercado pela natureza.
Procuradores e promotores investigam se duas construtoras e um pecuarista, todos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, pagaram a reforma e móveis do sítio.
O pecuarista é José Carlos Bumlai, réu no processo da Lava. Ele está preso no Complexo Médico-Penal do Paraná.
Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, é o dono da Usina São Fernando, que teria bancado parte da reforma no sítio.
É o que indicam dois depoimentos de profissionais contratados para fazer a obra.
Um deles é Adriano Fernandes dos Anjos, ex-dono da Fernandes dos Anjos & Porto Montagem de Estruturas Metálicas Ltda.
Ele contou aos promotores que prestava serviços para a Usina São Fernando e que ela o contratou para fazer uma estrutura metálica na casa do sítio em Atibaia.
Adriano contou que ficou na cidade de 30 a 40 dias e que “recebeu pelo serviço cerca de R$ 40 mil de mão de obra mediante depósito bancário feito pela usina”.
O sogro de Adriano confirmou para a equipe da RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, que ele trabalhou na obra.
Sogro: Servicinho lá. Intermédio do pessoal lá da usina, né?
Jornal Nacional: Do Bumlai?
Sogro: Do Bumlai.
Adriano disse que “se reportava ao engenheiro Rômulo Dinalli, que seria encarregado da usina para o serviço no sítio. O Jornal Nacional entrou em contato o engenheiro.
Jornal Nacional: O senhor não trabalhou na reforma do sítio?
Rômulo Dinalli: Não, não, não. O que tá falado, tá falado no depoimento
Mas o arquiteto Igenes dos Santos Irigaray, que trabalhou na obra, confirmou que recebia ordens do engenheiro Rômulo Dinalli.
Igenes declarou que não teve contato com nenhum proprietário do sítio e que não sabia quem utilizaria o lugar.
Ele contou que o objetivo era construir um anexo de quatro suítes e que “havia a exigência de entregar a obra para o Natal de 2011, por isso queriam terminar em 120 dias”.
O arquiteto também afirmou que o sitio era totalmente fechado e que havia câmeras por toda parte. E que a única pessoa que autorizava a entrada era o caseiro Maradona. O Jornal Nacional tentou conversar com Maradona na entrada do sítio.
Jornal Nacional: Você pode abrir para eu conversar com você?
Caseiro: Não, não posso.
Jornal Nacional: Por quê?
Caseiro: Porque eu não tenho autorização para falar.
O JN também procurou o arquiteto da obra no sítio em duas cidades, na casa dele em Dourados/MS e em Itu/SP, onde o engenheiro estaria trabalhando. Mas o arquiteto Igenes Irigaray desapareceu.
Nos últimos quatro anos, o ex-presidente Lula e a família estiveram no sítio 111 vezes. Patrícia Nunes, ex-dona de um depósito em Atibaia, disse ao JN na semana passada que entre o fim de 2010 e o começo de 2011 recebeu de R$ 70 a R$ 90 mil por semana para fornecer material de construção para o sítio e que um engenheiro da Odebrecht fez as compras.
Os procuradores suspeitam que o ex-presidente Lula seja o verdadeiro dono do sítio. Eles estiveram na loja em busca de provas.
No espaço mostrado na reportagem fica a história da loja de materiais de construção. Caixas com documentos estão no chão. Tudo isso já foi analisado. Mas o principal ficava dentro de uma sala, que agora está trancada. São blocos de notas fiscais dos últimos cinco anos. Neles constam as compras de materiais para a reforma do sítio e as empresas para onde os produtos foram faturados.
No papel, os donos do sítio são Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente. A escritura aponta que eles compraram o sítio de mais de 150 mil metros quadrados por um R$ 1,5 milhão
O nome de um deles, Fernando Bittar, aparece na nota da compra de móveis planejados para o sítio numa loja em São Paulo.
Um funcionário da loja disse, em depoimento ao Ministério Público paulista, que foi a OAS que pagou a conta de R$ 130 mil. Segundo o funcionário, a OAS não queria aparecer no negócio.
A OAS e a Odebrecht não se pronunciaram.
A defesa de José Carlos Bumlai declarou que ele nega, enfaticamente, ter assumido a reforma do sítio ou indicado um arquiteto e um engenheiro. Segundo a defesa, Bumlai indicou uma construtora para a reforma, mas essa construtora acabou não sendo aceita e foi substituída.
O Instituto Lula declarou que o ex-presidente Lula nunca escondeu que frequenta, em dias de descanso, o sítio Santa Bárbara, que pertence a amigos dele e de sua família. O Instituto também afirmou que não há nada de ilegal nisso e que esse fato não serve para vincular o ex-presidente a qualquer espécie de suspeita ou de investigação.
A defesa de Jonas Suassuna disse que ele só vai se manifestar perante à Justiça. O Jornal Nacional não conseguiu contato com Fernando Bittar”.
Fonte: Jornal Nacional/TV Globo