Gésio Passos
Do Portal EBC
Há alguns anos a China figura como o país que mais importa produtos brasileiros. Só em 2015, os negócios movimentaram mais de R$ 35 bilhões. Soja, minério e carne foram alguns dos produtos mais vendidos pelo Brasil. Porém, outra matéria-prima vem chamando atenção dos chineses: o futebol. Segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nada menos que 31 jogadores brasileiros deixaram o país rumo ao Oriente em 2014 e 2015.
Neste começo de 2016, o apetite chinês pelo esporte nacional só cresce. Alguns dos principais jogadores do Corinthians, campeão brasileiro de 2015, foram alvos dos orientais: Jadson, Renato Augusto, Gil e Ralf. Outros jogadores de renome também tomaram o rumo da China: Luís Fabiano (ex-São Paulo) e Geuvânio (ex-Santos) foram alguns deles.
Para o economista Luis Paulo Rosenberg, ex-vice-presidente do Corinthians, vários fatores têm contribuindo para a ação chinesa no mercado brasileiro. “O primeiro motivo para esta ascensão é que os jogadores brasileiros hoje estão 40% mais baratos com a desvalorização do real. Aí nenhum clube consegue segurar os salários pagos pelos chineses”, afirma.
O economista também aponta que há um projeto do governo da China para o desenvolvimento do futebol no país socialista. “O presidente Xi Jinping é um entusiasta do futebol e criou um programa de incentivo para o desenvolvimento do esporte no país”. Ele também chama atenção para o investimento de grandes empresas chinesas no esporte: “Os clubes funcionam como vitrines para essas grandes empresas e o investimento para compra de jogadores não pesam no orçamento delas”.
Com todo esse poder de fogo, Luís Paulo Rosenberg avalia que o futebol e a economia brasileira não têm condições de concorrer com um dos maiores mercados do mundo. Para ele, é necessário seguir investindo na formação de novos atletas para compensar a saída dos craques. “Os clubes têm que aprender a ser uma máquina de produção e de venda de jogadores. É como uma locadora de veículos, ele precisa alocar os carros e renovar sua frota anualmente para disputar o mercado”.
Futebol ainda precisa evoluir – Apesar de “tomar de assalto” dúzias de jogadores brasileiros, os resultados dentro de campo ainda mostram que os times chineses ainda têm que evoluir muito se quiserem chegar à elite do futebol. O Tianjin Quanjian, com Jadson e Luís Fabiano no time, perdeu os dois jogos que disputou até o momento: 2 a 1 para o XV de Piracicaba (time sem divisão no Brasil) e foi goleado por 4 a 0 pelo Bragantino (Série B).
Se na pré-temporada brasileira os chineses têm acumulado derrotas, pelo menos dentro do continente os times já deram mostras de evolução. Em 2013 e 2015, o Guangzou Evergrande conquistou o título continental e participou do Mundial de Clubes da Fifa. Em 2015, o time conseguiu derrotar o América (MEX) nas quartas de final e caiu apenas contra o Barcelona.
Alguns dos principais jogadores do Corinthians, campeão brasileiro de 2015, foram alvos dos orientais: Jadson, Renato Augusto, Gil e Ralf
Para o jogador Renato Calixto, que joga no Guangzou R&F (da mesma cidade do campeão continental), o futebol chinês está no caminho certo para o crescimento. “Com os jogadores estrangeiros, a cada ano o campeonato vai ficar mais forte, mais disputado e os olhares dos países vão se voltar para a China”.
Renatinho também diz que os torcedores estão começando a se interessar pelo esporte no país. “A torcida ainda está em desenvolvimento. Não é um bom público como no Japão, por exemplo, mas alguns times já têm bastante torcedores”, conta. Em 2015, a média de público da Super Liga da China foi de 22 mil pessoas. Vale lembrar que no Brasileirão 2015, a média foi de 17 mil pessoas.
Sobre a seleção chinesa, Renatinho acredita que o país deve chegar a uma Copa do Mundo em breve. “Trazendo os estrangeiros, eles estão fortalecendo os jogadores chineses. Acho que em breve disputarão uma Copa do Mundo também. A única vez que a China disputou uma Copa foi em 2002, quando Japão e Coreia do Sul não disputaram as eliminatórias por sediarem o Mundial. Na época, o time ficou em 31º lugar entre 32 seleções.
Veja a lista de jogadores que deixaram o Brasil para jogar na China em 2014 e 2015:
Shandong Luneng
Aloísio (São Paulo – SP)
Montillo / Argentino (Santos – SP)
Júnior Urso (Coritiba – PR)
Diego Tardelli (Atlético – MG)
Chongqing Lifan
Luiz Eduardo (Bragantino – SP)
Lincom (Bragantino – SP)
Elias (Bragantino – SP)
Jael (São Caetano – SP)
Guangzhou Evergrande
Renê Júnior (Santos – SP)
Ricardo Goulart (Cruzeiro – MG)
Robinho (Santos – SP)
Tianjin Teda
Lucas Fonseca (Bahia – BA)
Barcos / Argentino (Grêmio – RS)
Wagner (Fluminense – RJ)
Neimenggu Zhongyou
William Paulista (Sampaio Corrêa – MA)
Dorielton (Fluminense – RJ)
Qjngdao Jonoon
Reis (Oeste – SP)
Rogerinho (Paysandu – PA)
Guizhou Renhe
Hyuri (Audax – RJ)
Harbon Yiteng
Dorielton (Fluminense – RJ)
Jiangsu Santy
Elias (Resende – RJ)
Jiangxi Liansheng
Demerson (Bahia – BA)
Shanghai Shenhua
Paulo André (Corinthians – SP)
Shanghai Sipg
Conca / Argentino (Fluminense – RJ)
Shenzhen
Bruno Coutinho (Veranópolis – RS)
Changchun Yatai
Marcelo Moreno / Boliviano (Grêmio – RS)
Tianjin Songjiang
Nei (Boa Esporte – MG)
Wuhan Zall
Tássio (Bragantino – SP)
Xinjiang Tianshan
Rafael (Bahia – BA)
Zhejiang Greentown
Anselmo Ramon (Cruzeiro – MG) – Empréstimo (2014) / Definitivo (2015)