Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
O coronel reformado do Exército Paulo Malhães confirmou, em depoimento na Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio), que colaborou com o regime militar argentino.
“Descobri que tinha uma porção de argentinos voando, dentro do Rio de Janeiro, aproveitando a vida no Rio de Janeiro. Uns exilados políticos pela ONU [Organização das Nações Unidas], outros não. Aí, eu mandei fotografar todo mundo. ‘Eu quero que vocês saíam, tirem fotos de todo mundo. Eu quero esses caras todos fotografados. Eu não sei quem eles são, não quero que vocês saibam quem eles são. Eu só quero fotografia deles’. Ai foi tirada a fotografia deles todos”, disse o coronel, conforme texto divulgado pela Comissão da Verdade.
De acordo com Malhães, as operações argentinas identificaram todas as pessoas procuradas e ainda apontou a localização delas. “Fiquei famosíssimo na Argentina por causa disso, me deram medalha da Argentina”, disse o coronel, que morreu um mês depois de falar à comissão. O coronel prestou dois depoimentos: o primeiro, no dia 18 de fevereiro deste ano e o segundo, no dia 25 de março.
Segundo a polícia, o coronel foi vítima de assalto em um sítio, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A versão da polícia é contestada pela CEV-Rio. Para o presidente da Comissão da Verdade, Wadih Damous, a morte do coronel foi queima de arquivo.
Ele confirmou também que foi um dos mentores da Casa da Morte, em Petrópolis, na região serrana do Rio, onde morreram muitos presos políticos no período do regime militar. De acordo com a comissão, Malhães considerava a Casa da Morte um laboratório clandestino fora dos espaços militares. Para o coronel, assim, era possível uma atuação mais livre e mais violenta no aspecto psicológico. “Era para ser um lugar calmo, tranquilo e despercebido. [A casa de] Petrópolis só foi alcaguetada pelo filho do dono do prédio. Se não, ninguém saberia dela”, revelou Malhães.
A transcrição do depoimento foi publicada no site www.cev-rio.org.br.
De acordo com a comissão, o coronel reconheceu que o Exército adotou uma política de desaparecimento com uma técnica de ocultação de cadáveres em que retirava a arcada dentária dos presos, as pontas dos dedos e cortava o ventre das vítimas antes de colocá-las em sacos impermeáveis e lançá-las em um rio na região serrana do Rio. Dessa forma , os torturadores consideravam impossível a localização e identificação das vítimas.