O pacote anunciado pela presidente Dilma Rousseff na véspera do Dia do Trabalho pesará sobre as contas públicas. Somente a correção de 4,5% na tabela do Imposto de Renda (IR) da Pessoa Física em 2015 e o reajuste de 10% nos benefícios do programa Bolsa Família a partir de junho deste ano terão impacto de quase R$ 9 bilhões no Orçamento federal até o fim do ano que vem.
Segundo cálculos do economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, para o GLOBO, em 2014, o reajuste do Bolsa Família aumentará as despesas públicas em R$ 1,3 bilhão. Já em 2015, o impacto chega a R$ 2,3 bilhões e será combinado com renúncia fiscal de R$ 5,3 bilhões, decorrente da correção da tabela do IR de pessoas físicas.
Especialistas consideram que as medidas dificultam a tarefa da equipe econômica de realizar o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) tanto em 2014 quanto em 2015. Com receitas prejudicadas pelo fraco desempenho da economia e por desonerações tributárias e despesas elevadas, o governo foi obrigado a reduzir a meta fiscal deste ano, que está em R$ 99 bilhões, ou 1,9% do PIB. Para 2015, o compromisso, fixado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada ao Congresso, é de R$ 143,3 bilhões, ou 2,5% do PIB, podendo, no entanto, ficar em R$ 114,7 bilhões, ou 2% do PIB.
— São medidas importantes, pois a tabela do IR estava defasada e o Bolsa Família é um instrumento importante de redução de pobreza, mas a presidente está contratando uma despesa adicional perigosa — afirmou Salto. (Martha Beck, Geralda Doca, Clarice Spitz e Cássia Almeida)