Com uma cerimônia religiosa no Largo do Pelourinho na tarde deste domingo, o afoxé Filhos de Ganhdy pediu a permissão, a benção dos orixás e paz para o Carnaval de 2014. Neste ano, o afoxé mais tradicional da Bahia comemora 65 carnavais levando mais de 6.000 integrantes para as ruas com seus turbantes, indumentária típica em azul e branco e sandálias inspiradas na tradição indiana.
Desde o início da tarde, a movimentação é grande nas escadarias da Fundação Casa de Jorge Amado, onde são vendidos ornamentos, costureiras ajustam turbantes comprados de última hora. Um sapateiro com sua bancada na porta da agremiação, na Rua Maciel de baixo, corta e costura as sandálias para ficarem sob medida.
Aos 76 anos, Derivaldo de Santana já está pronto para acompanhar a cerimônia. Desde 1968 ele integra a bateria do afoxé, onde toca agogô ou gâ, como disse ser o nome do instrumento na nação Keto.”Toda vez é uma emoção diferente, só ver esse branco todo na rua é uma benção de Deus”. Neste ano o Gandhy tem como tema “Gandhy – Tradição, Religião, Fé e Respeito – Uma reverência aos Templos dos Orixás”
Às 15h em ponto, um grupo de integrantes sai da sede da associação e conduz os agdás, com as oferendas do Padê de Exu. No meio da praça forma-se uma roda por integrantes do afoxés, turistas e curiosos. Um dos integrante pede que se abra uma clareira ladeira abaixo. Depois de acender velas cantar em volta das oferendas tocam os clarins e sob um banho de milho branco o grupo segue ladeira acima em cortejo ao sons clarins e agogos.
Sérgio Lima, um dos que estavam na primeira roda em volta das oferendas, explica o significado. “O Padê é para Exu abrir os caminhos e Oxalá nos abençoar”. Funcionário da Justiça Federal, há 19 anos participa da cerimônia. “Para mim isso aqui é tudo. É também uma homenagem aos meus ancestrais que derramaram muito sangue para que eu pudesse estar aqui, celebrando a liberdade”.
Mas tem também quem participa pela farra da “pegação” que cerca os integrantes do grupo. “Não vou negar, estou aqui também para me dar bem, curtir muita paz com as meninas”, diz Roberto Souza, 22 anos, que, escondido da mulher, confeccionou 85 colares que pretende trocar por beijos na avenida.
O grupo pequeno vai aumentando. Os integrantes vão se juntando ao cortejo e quando o trio parte da Praça da Sé já são milhares, formando o tradicional tapete branco na Praça Castro Alves. Próximo ao Edifício Sulacap, Ana Maria Morais, ao lado da filha e da Neta de 2 anos, veio especialmente do Engenho Velho de Brotas para ver o Gandhy passar.
“Isso é negritude, isso é minha nação, olha pra aqui”, diz, mostrando os braços arrepiados, enquanto o trio passa ao som do Ijexá, em ritmo lento. Ao seu lado a professora capixaba Ariane Meyreles também estava na praça pelo mesmo motivo. “Vim do Espírito Santo só para ver os 40 anos do Ilê e os Filhos de Gandhy. Estou muito feliz. Foi maravilhoso, já posso voltar em paz.
Às 16h45, e o trio do Gandhy ainda está na altura da Rua do Cabeça, na Carlos Gomes. A Previsão é que alcance o Campo Grande às em instantes para participar do desfile do Afródromo.