REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
A presidente da Associação Comercial de Vera Cruz, Lenise Ferreira, afirmou que o movimento dos moradores da Ilha de Itaparica contra a taxa de R$ 1 que a concessionária Socicam passou a cobrar em cima das passagens da travessia Salvador-Mar Grande, não vai parar depois da manifestação de sábado, que paralisou o serviço. A empresária, que também é delegada distrital do Sindicato de Lojistas da Bahia (Sindlojas), considerou ”irracional e exorbitante” a decisão do Governo da Bahia, através da Agerba, de ter autorizado a Socicam a praticar o aumento, que causou um impacto de 24% em cima das tarifas das lanchas de Mar Grande – as passagens pularam de R$ 4,20 e R$ 5,60 para R$ 5,20 e R$ 6,60.
“É uma coisa absurda o que o governo está fazendo com o povo da Ilha de Itaparica. Todos sabem que temos uma população extremamente carente, com estudantes e trabalhadores de salário mínimo que usam as lanchas como meio principal de transporte. A manifestação de sábado, quando a travessia Salvador-Mar Grande parou de funcionar às 13 horas, foi só um exemplo do que virá pela frente, caso o governo não mude de ideia”, advertiu a empresária.
Durante o protesto, Lenise Ferreira e um grupo de manifestantes se dirigiram a um diretor da Socicam, que ficou sempre atrás das grades do Terminal Náutico. Ele não se identificou e disse que só podia ouvir, mas não tinha autorização para falar nada.
“A Socicam e a Agerba alegam que a taxa de R$ 1 em cima da tarifa é para realizar melhorias no Terminal Náutico. Na Bahia ocorre tudo diferente: em outros estados, quando um serviço é concedido, a concessionária tem uma meta para primeiro investir no negócio, melhorar o serviço para depois cobrar. Aqui não, o empresário recebe primeiro do cidadão para depois dizer que ”vai melhorar”. O Terminal Náutico todos sabem que tem um salão de passageiro que é uma vergonha e os sanitários sequer têm portas. O povo fica no sol ou na chuva e paga agora R$ 1 somente para atravessar uns 10 metros do terminal e pegar a lancha”, disse Lenise.
Tirar o Foco do Ferryboat – Para a empresária, a estratégia da Agerba ao conceder à Socicarn o direito de cobrar R$ 1 por cada passageiro embarcado não passou de uma manobra da agência de regulação para tirar o foco do Sistema Ferryboat, ”sempre envolto em crise”, com serviço caótico marcado por filas quilométricas, navios quebrando constantemente ou ficando à deriva, como aconteceu recentemente com o “Pinheiro”, que foi puxado de corda do meio da Baía de Todos os Santos, levando pânico aos passageiros a bordo.
“Eles querem jogar problema para as lanchas de Mar Grande e desviar a atenção. A Agerba está abusando e já deveria ter fechado as portas. Pode escrever quem quiser: esta licitação que marcaram para a concessão do Sistema Ferryboat, dia 19 de fevereiro, é mambembe. Como é que o governo vai licitar o sistema e sequer exige que a nova concessionária, que deve ser a mesma, invista em novas embarcações? Como se explicar isso? Quer dizer, o governo vai comprar embarcações, mesmo usadas, para entregar à empresa, com dinheiro do cidadão? Para depois receber tudo sucateado? É uma licitação mambembe e já apelamos ao Ministério Público”, sustentou.
Clandestinos no Terminal Náutico – Com o diretor da Socicam, ainda no Terminal Náutico, Lenise Ferreira mostrou também que na tarifa da travessia Salvador-Mar Grande já é cobrada a taxa de R$ 0,30 como Taxa de Utilização do Terminal (Tute), mais R$ 6 por embarcação atracada e mais R$ 0,21 de uma TPP da Agerba. “E agora, além dessas taxas, a Socicam ainda vai receber mais R$ 1 por passageiro de uma nova Tute? Convenhamos: se cobrar R$ 1 de embarque na Rodoviária de Salvador e R$ 1 para se pegar uma lancha, ficar debaixo do sol, no Terminal Náutico, tem uma diferença estúpida. Coisas da Agerba”, observou.
Para deixar o clima Terminal Náutico mais tenso e aumentar o protesto de estudantes e usuários, exatamente no momento em que os manifestantes ocuparam o acanhado salão de passageiros e se colocaram em frente às bilheterias, um grupo de turistas com destino ao Morro de São Paulo passou conduzido pelo canto do terminal, não pegou a fila de passageiros e teve acesso às embarcações na frente de todo mundo.
Além da empresária, outras lideranças do movimento flagraram a ocorrência e muitos manifestantes começaram a gritar. Ao diretor da Socicam, Lenise mostrou a prática e questinou como é que a concessionária permitia “aquele abuso”, já que os usuários estavam na fila, debaixo de sol, e os turistas tinham prioridade que os nativos da Ilha nunca têm. “Os estudantes da Ilha pegam fila, o trabalhador também, não têm meia passagem. Esse transporte com prioridade, com gente furando a fila, não pode continuar. É assunto para o Ministério Público”.