Os representantes do Estado continuam confusos quanto a que fazer como resposta à gigantesca insatisfação que o povo brasileiro demonstrou nas manifestações de rua em junho, mais parecendo que aguardam uma acomodação social que lhes dê fôlego para “levar o barco”.
Após os avanços e recuos das primeiras medidas legislativas, o meio político voltou a ensimesmar-se nas velhas discussões que, longe de resolver problemas, tendem a atenuá-los e mascará-los no curso da inutilidade verbal.
Enquanto isso, os assaltos vão das biroscas aos shoppings, as pessoas morrem nos corredores de hospitais, multiplicam-se os homicídios e estudantes vão às escolas para aprender nada. Sobretudo, a classe política continua dando exemplos de insensibilidade e indiferença.
Talvez não tenha havido a compreensão para a extensão e grau do quadro nacional, mas esta é uma tensão que não terá alívio. O caldo de cultura foi criado, curiosamente, pelo primeiro de uma série de eventos esportivos que o poder vigente esperava positivos ao seu intento de prestígio e perpetuação.
As ruas de junho, se tiveram a espoleta nos 20 centavos da passagem de ônibus, ganharam a condição de grande detonador de um processo que inevitavelmente crescerá e, persistindo a gravidade da situação, desembocará imprevisível no 2014 da Copa e das eleições.
Ver o povo acordado é uma arte – Em junho, na verdade, ocorreu o pico de uma reação que, em maior ou menor grau, tem estado presente no espírito popular. Diariamente, veem-se em todo o país protestos por variadas causas, mostrando que a sociedade não adormeceu.
É impossível que essa inquietude não esteja sendo avaliada ou, pelo menos, percebida por autoridades de todas as esferas, às quais cabe trabalhar pela paz social, e se insista com um discurso dissimulador, que não disseca as raízes do abalo. (Por Escrito)