LUÍS AUGUSTO GOMES
O ex-prefeito Gilberto Kassab não disse que receberá com “grande satisfação” um eventual convite da presidente Dilma Rousseff a Guilherme Afif Domingos, um dos cardeais do PSD, para que faça parte do ministério em sua cota pessoal de indicações.
Quase ao contrário, o comentário de Kassab, ante questionamento explícito da imprensa, foi de que não poderá “impedir” a nomeação, o que dá um sinal de que nem essa participação não oficial o partido deseja.
O objetivo de Dilma, óbvio, era amarrar com razoável antecedência o apoio do PSD à reeleição, mas o ex-prefeito não mordeu a isca. Mantém-se em distância obsequiosa, o que atribuiu à vontade momentânea da maioria dos correligionários, e disse que o quadro poderá mudar “no ano que vem”.
Para ser claro, Kassab deveria ter dito expressamente isto: “Presidente, meu partido é um saco de gatos, formado por sobras, dissidentes ou oportunistas da política em vários Estados, e não tem interesse em resolver nada agora, prefere esperar para ver aonde vai o barco de 2014”.
De fato, seria contraproducente Kassab receber agora uma migalha com prazo de validade de um ano, que não vai saciar a fome do rebanho, em troca do atrelamento precoce a um projeto que pode gorar, e ainda retiraria o PSD da verdadeira mesa de decisão no futuro próximo.
Partido examina roteiros para seguir viagem – Para o PSD, o mapa sucessório tem vários roteiros, desde a vinculação original ao PSDB via José Serra até o desvio em direção à vasta rodovia que se abre para o PSB do governador Eduardo Campos, passando pela permanência na trilha atual da “independência pró-governo”.
Não há nisso nenhuma contradição, porque é do próprio líder nacional a afirmativa de que o partido “não é de direita, de esquerda nem de centro”. Mantém-se, portanto, à tripla margem, em conveniente avaliação dos cruzeiros postos à disposição no mar revolto da disputa presidencial.
Política baiana: vocação para a diferença – O quadro traz alta complexidade para a política da Bahia, que é a segunda seção regional do PSD em todo o Brasil, perdendo apenas para São Paulo. Ou a maior, se comparados proporcionalmente os prefeitos eleitos pela legenda em 2012 e as bancadas estadual e federal formadas na fundação, um ano antes.
Essa força se deve à habilidade de atração do vice-governador Otto Alencar, que já demonstrara plenamente do que era capaz ao transitar da órbita carlista para o palanque do governador Jaques Wagner, conquistando em seguida grande prestígio no PT e demais legendas da aliança.
O supostamente ideal para Otto é que o PSD marche com Dilma e ele se acomode por aqui, na pior das hipóteses, como candidato ao Senado, para o que seria pacificamente aclamado pela base, com amplas chances de vitória, em razão do trabalho que realiza, devidamente instrumentalizado, na Secretaria da Infraestrutura.
Mas as nuvens podem tomar outros rumos, pois vento é o que não falta, fazendo reviver na política baiana situação relativamente recente em que, por vigência do carlismo, o PSDB se opunha a sua própria coligação no âmbito nacional para ser amigo do PT estadual.
PSD com Campos seria prova de fogo na Bahia – As equações são muitas. O PSD, embora seja opção mais distante, pode unir-se ao PSDB, com o senador Aécio Neves. Se o candidato tucano a governador na Bahia for o deputado Antonio Imbassahy, não é crível que Otto venha a gostar de apoiá-lo contra o preferido de Wagner.
O ambiente muda radicalmente se o governador Campos candidatar-se e tiver a adesão de Kassab, com quem tem boa ligação, evidenciada na perspectiva de que o PSD em gestação se fundisse ao PSB num processo de fortalecimento mútuo, o que acabou não acontecendo porque o recém-nascido gozava de muito boa saúde.
A primeira providência seria a candidatura de Lídice da Mata ao governo, para a qual a senadora já pediu até a “compreensão de Wagner”. Como se trataria de um projeto para vencer, não comportaria dubiedade, e provavelmente dois dogmas estariam à prova: a ampla liberdade de que gozam os filiados ao PSD e o indestrutível compromisso entre Otto e Wagner. (Por Escrito)