REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
O caos continua instalado no sistema ferryboat. Apesar de a concessionária paulista TWB ter sido expulsa das operações desde setembro do ano passado, os usuários voltaram a enfrentar ontem os mesmo e antigos problemas e por isso mesmo houve muito protesto e buzinaço no Terminal de Bom Despacho, com a fila de espera para quem queria atravessar para Salvador, de veículo, chegando a seis horas.
Motivo: apenas dois ferries em tráfego. Pior ainda: no início da noite, o navio “Anna Nery” apresentou um problema ao atracar em São Joaquim e também saiu das operações. Com apenas um navio, as filas logo cresceram levando os usuários ao desespero.
Os protestos e o buzinaço em Bom Despacho eram todos dirigidos ao governo. Muita gente dando palavrões, xingando o governador Wagner, o vice Otto Alencar e o pessoal da Agerba. Alguns, mais irritados, tentavam derrubar as grades de proteção que dão acesso ao pátio de veículos.
“Isso aqui é uma esculhambação, ninguém tem mais paciência não. Vem o vice-governador Otto Alencar com a cara mais lisa do mundo dizer que seriam sete navios atendendo a partir do Natal, enrolando os usuários, fazendo as pessoas de otárias. Depois aparece o governador Wagner pra dizer que não seriam sete, mas cinco, e nada. É uma falta de respeito, o governo brinca com o povo”, desabafou o comerciante José Dias Vieira, que estava no Terminal de Bom Despacho.
Reforma Furada – Pela programação da Agerba divulgada em novembro, no início de dezembro dois dos quatro ferries docados na Base Naval de Aratu para reforma voltariam a operar. Não deu. Pelo estardalhaço feito na imprensa pelo vice-governador Otto Alencar, “dia 15 de dezembro ou no máximo dia 20”, nada menos que sete ferries estariam atendendo a população. Previsão totalmente furada. Nada aconteceu e o sistema continuou até o final do ano com apenas três unidades em operação.
E o que é mesmo que está acontecendo no ferryboat, que continua infernizando a vida das pessoas mesmo depois da saída da TWB?
Resposta: a TWB sucateou as embarcações porque não queria investir na manutenção dos navios. O governo, através da Seinfra/Agerba, tem dinheiro e gasta uma verdadeira fortuna para recuperar a frota sucateada pela TWB, mas não tem competência para tocar, com eficiência, o plano de reforma dos navios, que está sendo executado na Base Naval de Aratu.
Por isso, as previsões falham, os prazos nunca são cumpridos e o serviço acaba saindo mal feito. Por exemplo: para um ferry que passou mais de dois menses docado na Base Naval, o estado em que o “Rio Paraguaçu” voltou ao tráfego ficou muito a desejar. Até a pintura que recebeu lembra os tempos da TWB: parece feita a facão. Uma lástima.
Fora os sérios problemas com a reforma dos navios, informações que chegam ao JORNAL DA MÍDIA apontam que a empresa contratada pela Agerba, como terceirizada, para tocar os serviços na Base, tem demonstrado, no dia a dia, que não vai a lugar nenhum. Trata-se da Lumar – Agência Marítima e Transportes Ltda.
“Esses navios que estão sendo reformados vão quebrar em pouco tempo. Anotem o que estou dizendo e me cobrem depois. Esse pessoal da Lumar e da Internacional Marítima não tem qualificação e fica muito a desejar. Venderam gato por lebre à Agerba”, alerta o leitor Thiago Santos, em e-mail ao JORNAL DA MÍDIA..
A Lumar, para quem não se lembra mais, principalmente os coleguinhas da mídia sem memória, chegou a ser citada algumas vezes como uma das quatro empresas que seria escolhida para substituir a TWB. Quem fez a citação foi o nosso médico ortopedista Otto Alencar, vice-governador e secretário de Infraestrutura, que por sinal anda meio recolhido ultimamente. O diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, também citou a Lumar.
Parceria suspeita – Outras informações obtidas pelo JORNAL DA MÍDIA apontam ainda que a mesma Lumar contratada como terceirizada pela Agerba, segundo se informa pela bagatela de R$ 500 mil/mês, está atuando em parceria com a Internacional Marítima, que vai assumir o sistema ferryboat logo que acabar a intervenção da Agerba.
Aliás, que intervenção demorada. Prevista para acabar em 30 dias, lá se vão quatro meses. E nada de relatório dos interventores. E nada de a caducidade do contratado da TWB ser decretada. E nada do Ministério Público divulgar seus relatórios sobre o acompanhamento da intervenção… Quanta transparência!
Essa “parceria” da Lumar com a Internacional Marítima é, se verdadeira, muito suspeita. A Internacional será a futura concessionária do ferryboat e não pode ficar tendo acesso a informações, a procedimentos e às normas do governo com antecedência. Fala-se também que, na verdade, no pacote de contratação da Lumar pela Agerba, existe pessoal da Internacional no meio atuando nas operações do ferryboat e na reforma dos navios na Base Naval de Aratu. Seria uma coisa antiética e escandalosa.
Dentro do seu espírito democrático, o JORNAL DA MÍDIA está aberto a receber as informações da Agerba sobre o caso. Aliás, desde sábado que o JM vem tentando contato com o interventor do sistema ferryboat, Bruno Moraes, mas sem nenhum retorno. A última tentativa foi feita na segunda-feira (7), através da secretária da Diretoria da Agerba.