Políticos da oposição e organizações de direitos humanos pediram a renúncia do ministro da Justiça argentino, Julio Alak, por ter realizado um churrasco de fim de ano para 2 mil pessoas, no último dia 27, no prédio da antiga Escola de Mecânica da Marinha (Esma), um dos principais centros de detenção da última ditadura argentina. O local chegou a contar com 5 mil detentos – menos da metade sobreviveu. O festejo foi considerado uma falta de respeito dos sobreviventes e familiares das vítimas.
Carlos Gregorio Lordkipanidse, que foi prisioneiro na Esma, disse que não há perdão para o ato do governo e que o caminho agora é a renúncia:
– A ofensa de Alak é como se fizessem pães doces nos fornos de Auschwitz. É horripilante o que fizeram na Esma.
O deputado opositor Julian Obiglio comentou o episódio em sua conta no Twitter: “Relato K: os direitos humanos são o mais importante. Realidade K: faço churrascos e brindes no mesmo chão onde foram torturados seres humanos. Se (Michelle) Bachelet, (José) Mujica, Lula ou Dilma (Rousseff) fossem presidentes da Argentina, o ministro Alak já teria sido despedido”.
O deputado Manuel Garrido defendeu uma demonstração pública de arrependimento de Alak, embora tenha destacado que a verdadeira organizadora do evento foi a associação kirchnerista La Cámpora.
O festejo veio à tona após uma denúncia da organização Herman@s de Desaparecidos por Verdad y Justicia. O grupo disse, em nota, que a comemoração representa um ultraje à memória dos desaparecidos e uma afronta aos familiares, que ainda se perguntam quanto ao destino de parentes.
Segundo o “Clarín”, os funcionários foram forçados a comparecer ao evento. A mensagem enviada pelo Serviço Argentino de Informação Judicial dizia: “De acordo com o informado pela direção, o comparecimento a esta atividade é de caráter obrigatório. Caso tenha algum problema, por favor, avise no dia de hoje.”
Local funciona como museu – O ministro não comentou o escândalo. Mas Camilo Juárez, da organização Hijos — que reúne filhos de desaparecidos roubados por militares ou famílias ligadas ao regime — ponderou ao canal C5N que o local já não funciona como um centro de detenção, mas como espaço cultural e de encontro. A antiga Esma abriga um museu da repressão dos militares contra guerrilheiros, dissidentes, sindicalistas e estudantes. Há visitas guiadas aos locais onde os detidos eram torturados. O prédio também recebe exposições de arte.
De outro lado, a porta-voz das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, disse considerar um absurdo que um brinde de fim de ano com os funcionários da Secretaria de Direitos Humanos na antiga Esma gere pedidos de renúncia do ministro da Justiça. (O Globo)