Em ação articulada, a base aliada conseguiu adiar nesta quarta-feira a votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, para convocar o publicitário Marcos Valério para prestar esclarecimentos sobre as acusações feitas, em depoimento à PGR, de que o ex-presidente Lula deu aval para o esquema de desvio de recursos públicos para financiar o PT e comprar apoio no Congresso.
Mais tarde, na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, parlamentares da base também evitaram a convocação dos ministros da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, além do convite à ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, derrotando requerimentos apresentados pela oposição. Ao mesmo tempo, conseguiram aprovar convite para ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
– Se eles querem guerra, vão ter! É a primeira vez que participo desta comissão e gostei – afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), autor do requerimento de convite relativo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em seu requerimento, Tatto usou como argumento para chamar o ex-presidente tucano para esclarecer dúvidas em relação à chamada Lista de Furnas. Segundo o líder petista, a lista traz nomes de pessoas ligadas ao governo tucano que teriam recebido recursos ilegais.
– É o esquema de financiamento de campanha do PSDB. Recursos para a campanha presidencial do Fernando Henrique em 1998. Sempre dizem que a lista é falsa, mas um perito analisou recentemente e disse que é verdadeira. Essa comissão serve para pensar para o futuro. Nada melhor do que convidar o presidente para explicar os fatos, a influência do ex-presidente sobre Furnas e Eletrobrás, como se deu essa relação e evitar que isso volte a acontecer no Brasil – justificou Tatto.
Como são convites e não convocações, nem Fernando Henrique, nem Gurgel precisam comparecer. No caso de Gurgel, o autor foi o presidente da Comissão de Mista de Inteligência, Fernando Collor (PTB-AL), que tentou a convocação na CPI do Cachoeira e não conseguiu. Collor defendeu o convite argumentando que Gurgel poderá explicar melhor à comissão como é a interação entre o Ministério Público e a Policia Federal e citou operações recentes como a Vegas e Monte Carlo.
O requerimento de convite a Gurgel foi aprovado simbolicamente, inclusive com o voto de dois parlamentares da oposição presentes à sessão: o deputado Mendes Thame (PSDB-SP) e o senador Jaime Campos (DEM-MT). Já o de Fernando Henrique teve o voto contrário de Mendes Thame, que reclamou da falta de sentido do requerimento. O senador Jaime Campos saiu da sessão enquanto se discutiu o requerimento relativo ao ex-presidente tucano.
Essa comissão é uma comissão especial, integrada por apenas seis parlamentares: os presidente das Comissões de Relações Exteriores das duas Casas e os líderes da maioria e minoria da Câmara e do Senado. Ou seja, dois são da oposição e quatro integram a base aliada.
Esta foi a terceira reunião realizada em 2012. Nesta quarta-feira, constavam na pauta apenas os três requerimentos da oposição relativos à Operação Porto Seguro (Gleisi, Adams e Rosemary Noronha), além de outros projetos. Os requerimentos de convite a Gurgel e FHC foram incluídos extra-pauta. Dos seis integrantes, só não estava presente o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Ainda dentro da estratégia de reação pesada à oposição, o líder do PT avisou ainda que irá pedir ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que instale a CPI da Privataria, requerimento do deputado Protógenes (PCdoB-SP), que tem por objetivo investigar irregularidades que teriam ocorrido durante o processo das privatizações do governo do ex-presidente FHC. A CPI usa como base livro escrito pelo jornalista Amary Ribeiro. Protógenes conseguiu as assinaturas necessárias e protocolou, em dezembro de 2011, o requerimento na Câmara. (O Globo)