LUÍS AUGUSTO GOMES
A sensação ao ler-se a entrevista do governador Jaques Wagner em A Tarde é de que não seriam necessárias duas páginas para as declarações realmente importantes que ele deu, devendo ter sido um suplício responder a tantas perguntas sobre os resultados eleitorais.
Depois de festejar a vitória de partidos da “base” em 350 municípios, como se a maioria não fosse de prefeituras de pequena expressão política necessitadas de aderir ao poder vigente, o governador desenvolveu uma estranha tese do crescimento nos dois maiores municípios, que concentram cerca de um quarto da população baiana.
“Crescemos” em Feira de Santana, diz Wagner, depois de o ex-prefeito José Ronaldo ter derrotado por 66% a 18%, no primeiro turno, seu líder na Assembleia Legislativa, Zé Neto, em vexame que não foi evitado nem pela presença do ex-presidente Lula, e que poderia tê-lo sido, porque amplamente previsto.
Em Salvador, o “crescimento” foi explicado pelo percentual sempre em elevação da votação dos candidatos petistas ao longo das eleições: 21%, 30%, 39,7%, embora, desgraçadamente, chegassem, quando muito, em segundo lugar. A tal ponto que um dos entrevistadores não resistiu: “Se mantiver a curva, vem forte em 2016…”
Defesa de Lula omite derrotas retumbantes – A Wagner resta mesmo defender Lula, por amizade, lealdade partidária e, claro, por aquele que se imagina ser o grande patrimônio (moral? eleitoral? político?) do PT.
O fato, porém, é que suas injunções foram amplamente repelidas em Belo Horizonte (com a presidente Dilma), Recife, Fortaleza, Manaus e até, veja-se, Salvador, considerada quintal do barbudo.
Está consumado nacionalmente na análise política realista que Lula, pelo menos nessas eleições, não foi o mito que se pregava.
“Sua” única vitória, de fato emblemática, em São Paulo, com Fernando Haddad, é fruto de um misto entre erro fatal da campanha de Celso Russomano, que permitiu Haddad no segundo turno, e o ocaso de José Serra.
Comparação indevida com Aécio e Campos – Em certo momento, o governador partiu para uma defensiva extremada: “Me diga onde está o sucesso de Aécio, diferente do meu”.
Ora, o senador Aécio Neves reelegeu o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), no primeiro turno, contra o petista Patrus Ananias, de Lula e Dilma.
Em Salvador, forçoso é recordar, Wagner, com Lula e Dilma, não pôde fazer o mesmo por Nelson Pelegrino.
Sobre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, foi pretensioso: “O Eduardo foi vitorioso. Se eu quisesse azedar o chope dele diria que perdeu em Curitiba”.
Novamente, ora, “o Eduardo” ganhou em Recife, com “um poste”, para usar linguagem corrente, e seu PSB é o partido que arrebatou maior número de capitais, entre elas Fortaleza.
Festival de chavões – A falta de substância de grande parte das palavras do governador pode ser medida pela quantidade de lugares-comuns emitidos, como “respeito a decisão dos eleitores”, “na política é preciso juntar” e, ainda, o incrível “você perde a eleição porque o adversário teve mais votos”.
PT não tem cabeça de chapa garantida – No rol das revelações de peso, destaque-se a afirmação de Wagner de que ou ele ou o vice-governador Otto Alencar permanecerá no cargo depois de abril de 2014.
Caso seja o vice, este assumiria o governo por nove meses, sinalizando para a tese que corre no meio político, segundo a qual Otto seria o cabeça da chapa, concorrendo à reeleição.
Realmente, não passa pela cabeça de ninguém que o vice deseje ficar sem mandato a partir de 2015, e no cargo só poderia concorrer mesmo ao governo.
Lembremo-nos de que, ao iniciar a resposta sobre sucessão estadual, Wagner disse que “é natural o PT ter a cabeça, mas o jogo terá de ser jogado”, pois “a conjuntura política é que vai dizer”.
Se, ao contrário, o governador permanecer no cargo, presume-se que tentará fazer seu sucessor uma espécie de “poste”, muito possivelmente o secretário Rui Costa, numa empreitada temerária.
Sobraria para o vice a disputa pelo Senado, como no passado ele dizia que queria, mas não se sabe se topará com tal companheiro de chapa.
Como Otto, governador aceita Nilo – Outra declaração de realce foi a admissão de que o deputado Marcelo Nilo tem o controle da situação e deverá chegar ao quarto mandato de presidente da Assembleia Legislativa, com o apoio já manifestado do vice-governador.
Como o PT, seguramente, não tem chance de fazer o próximo presidente, Wagner sabe que é de Nilo para pior, e, assim, o melhor é não tentar desestabilizar o aliado.
O governador, como costuma comportar-se em sua carreira política, tem uma posição “filosófica”, contrária à reeleição, mas a separa da conjuntura: “Acho que ele (Nilo) tem uma facilidade e não vamos ficar criando problemas”.
Sem efeito – Respondendo sobre o prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, deu-lhe “uma vantagem” pelo fato de ter ele, Wagner, “postura sempre proativa” em relação a Salvador, “seja quem for o prefeito”. O problema, dizemos nós, é o que resultou dessa proatividade.
Olhe lá você – Mais adiante, depois de prometer a Neto tratamento de “prefeito de uma capital”, adverte: “Agora, se ele quiser fazer da Prefeitura palanque, é uma decisão dele. Se virar palanque, vai ter disputa”.
Neste último caso, Wagner tinha sido interpretado como alguém que não faria com o prefeito “o mesmo que o avô fez com Lídice da Mata”.
No primeiro impulso, respondeu: “Você é quem está dizendo”. Para depois retomar o pensamento refletido e afirmar que é de seu grupo político – ou dele mesmo, não esclareceu – “o mérito” de não perseguir adversários. (Por Escrito)