LUÍS AUGUSTO GOMES
O grande nó da campanha de Nelson Pelegrino é a falta de identidade do candidato, que entregou sua alma nas mãos de Dilma, Lula e – vá lá – Wagner. Essa foi a esperança de subida no primeiro turno e está sendo neste segundo, até com a vinda a Salvador das duas grandes estrelas do PT.
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O discurso de dependência dos governos federal e estadual, que insistiu em sustentar ontem, no debate da TV Record, vale por uma punhalada na liberdade, e qualquer um percebe isso, restando decidir entre o conformismo e a rebeldia. É uma via perigosa de argumento porque toca na dignidade do cidadão.
“Só eu tenho dinheiro”, poderia dizer, em síntese, o candidato, embora os recursos, no caso de o adversário se eleger, não vão ser negados ao prefeito, mas à população da capital.
Ambulantes não esquecem ex-prefeito — A grande vitória de Pelegrino, entre tantos temas trazidos ao público, deu-se na questão dos ambulantes, porque é indiscutível que o ex-prefeito Antonio Imbassahy, agindo sob os governos carlistas de Paulo Souto e César Borges, capitaneou um processo de “limpeza” dos locais, no centro da cidade e em bairros, tradicionalmente ocupados pelos trabalhadores da categoria.
Foi um tempo difícil para os camelôs, escanteados em espécies de guetos da informalidade, e sob total rigor no cumprimento das posturas municipais para perseguição e apreensão de mercadorias. Tudo que o adversário fizer nesse segmento será apenas uma tentativa de aliviar o prejuízo.
“Empate técnico” em acusações mútuas – Se a questão forem as raízes históricas, os dois candidatos empatam em muitos itens, pois ambos os lados têm suas culpas em problemas que jogam um em cima do outro.
Tanto DEM quanto PT, cada um a seu modo e a seu tempo, são responsáveis pela situação do metrô, da segurança pública e do turismo, assim como pelas relações com o prefeito João Henrique.
Se Pelegrino tem campo vasto a avançar nas truculências e outros métodos do carlismo, Neto não poderia, agora, dispensar as mazelas do mensalão.
Tom alto passou “despercebido” – Deslizando sobre os temas costumeiros, o debate teve, no entanto, uma grande diferença: a elevação do tom de Nelson Pelegrino (PT), que insinuou ter o falecido senador Antonio Carlos Magalhães enriquecido ilicitamente.
“Seu avô já morreu, mas deixou fortuna para o senhor e sua família”, afirmou, quando ACM Neto (DEM) reclamou de “ataques a quem não está mais aqui para se defender”. Faltou a Neto reação mais indignada.
Respeito às regras é essencial – A gafe da noite foi, certamente, a interferência de Pelegrino na fala de Neto ao ouvir a expressão “acabe sua cota de mentiras”. O petista iniciou um bate-boca que consumiu o tempo de um minuto do adversário, depois reposto.
“Meça suas palavras” foi uma das frases que se conseguiu ouvir de Pelegrino, dando a Neto a oportunidade de dizer que ele estava “nervoso” – uma alusão silenciosa à suposta vantagem eleitoral revelada por pesquisas.
Fugir ruidosamente às regras de debate é a pior coisa que um candidato pode fazer. Aqui, insuspeitamente, recordamos o prejuízo sofrido pelo falecido governador Leonel Brizola com comportamento semelhante em vários debates, angariando antipatia do público.
Muito barulho para pouco voto – O verdadeiro efeito dos debates nas TVs entre os candidatos a prefeito tem uma óbvia correlação com a audiência de cada emissora no horário em que os realizar.
O de ontem, na TV Record, terminou aos 30 minutos de hoje, supondo-se que não tenha influenciado substancialmente o eleitorado.
Seu público, naquele horário, é seleto – políticos, assessores, jornalistas e notívagos irresponsáveis que não precisem responder ao relógio pela manhã. (Por Escrito)