As novas pesquisas divulgadas esta semana pioraram o clima entre PSB e PT, e, por tabela, a relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Em Recife, a subida de Geraldo Júlio, o candidato de Campos que empatou com Humberto Costa (PT) e trabalha para vencer no primeiro turno, levou a um acirramento tal que há quem fale na possibilidade de ruptura da histórica parceria entre as legendas a partir de novembro. Soma-se à situação de Recife, a manutenção da larga vantagem de Márcio Lacerda (PSB) sobre Patrus Ananias (PT) em Belo Horizonte. O senador Jorge Viana (PT), interlocutor assíduo de Lula, não esconde o incômodo:
— O presidente do PSB está deixando nessa história de Recife o pior sentimento para a relação PT-PSB, que é o sentimento da ingratidão. O presidente Lula merecia um tratamento muito melhor do que esse do presidente do PSB.
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Segundo Viana, o PSB não teria tido qualquer motivo para reclamar do PT:
— O PSB é um parceiro privilegiado na nossa história de governo. O que o PT fez em Belo Horizonte pelo PSB em 2008 ninguém mais faria. Lá há uma figura chamada Aécio Neves, simbólico, e lá aceitamos fazer uma aliança com aval da direção nacional para o PSB governar Belo Horizonte. Além disso, a presidente Dilma tem dado um tratamento privilegiado para os governos de Pernambuco e do Ceará. Estamos em uma eleição paroquial, mas quando as paróquias são importantes, é preciso os cardeais agirem. E os cardeais do PSB jogaram mal.
O plano inicial de Campos — incensado por Lula — era ser opção como sucessor de Dilma em 2018, mas ele teria se convencido de que jamais conseguirá o apoio do PT para o Planalto.
— Depois das eleições é que a gente vai poder avaliar como a aliança vai ficar. O Eduardo tinha uma boa relação e continua tendo muito respeito pelo presidente Lula, mas está machucado com o PT — ilustra um aliado do governador.
Campos tenta publicamente minimizar o rompimento com Lula. Seus aliados mudaram o tom e agora falam em apaziguamento.
— Esse esgarçamento será absolutamente superado após o processo eleitoral. Agora, é natural que o partido se fortaleça e ocupe espaços que antes eram ocupados por outras legendas —disse ontem o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), num tom mais ameno do que o adotado no início da semana.
Até o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), adversário mordaz do governo Lula e neoaliado de Campos, evita ampliar o conflito:
— Eu sou oposição a Lula, ele (Eduardo Campos) não é. É forçar muito a mão dizer que (o rompimento) é uma coisa contra o Lula.
Nos meios de comunicação, o racha se transformou em guerra. Lula aparece no programa eleitoral de Costa criticar o “choque de gestão” de Campos. O ex-ministro José Dirceu acusou, em seu blog, o governador pernambucano de estar cada vez mais afinado com o tucanato. O conflito extrapola a capital pernambucana e se espalha também pelo sertão.
O presidente nacional do partido, Rui Falcão, que esteve anteontem no interior de Pernambuco, confirma a tensão:
— O que houve entre o PT e o PSB foi uma ruptura de acordos que já tinham sido estabelecidos. Em Belo Horizonte, por exemplo, queríamos continuar apoiando o PSB, mas preferiram o Aécio. E em Recife, romperam com a Frente Popular — disse o presidente nacional do PT.
Apesar do clima, Rui Falcão disse esperar que os socialistas continuem na base aliada do governo da presidente Dilma Rousseff:
— Temos aliança com o PSB em várias cidades; e, no governo federal, eles compõem nossa base. Espero que continue assim.
O tom adotado por Dirceu é mais agressivo:
“É até certo ponto surpreendente que o governador de Pernambuco tenha o choque de gestão como principal mote da campanha de seu candidato. Choque de gestão é tucano e aecista, invenção do senador Aécio Neves”.
Na TV, o ex-presidente Lula diz, no programa de Costa, que, na política, usa-se “palavras mágicas” como o termo “choque de gestão”.
Em Pernambuco, o PSB tentou mostrar tranquilidade com a crítica de Lula. O presidente estadual da legenda, Sileno Guedes, minimizou a crise e disse que o conflito se deu por uma “falta de unidade do PT em Recife”. (O Globo)