LUÍS AUGUSTO GOMES
O PCdoB, apesar da excelência do seu coletivo de pensadores, cometeu um erro irreversível ao retirar a candidatura da deputada Alice Portugal à Prefeitura de Salvador. Ao contrário das vezes anteriores, em que terminou desistindo do pleito em favor do PT, o partido deu firme demonstração de que desta vez sairia em busca do próprio espaço.
A disputa da Prefeitura, iniciativa que ameaça há quase uma década, era motivada pelo instinto de sobrevivência da organização, que vê os anos passarem na evidente função de linha auxiliar, sem a expectativa de transformar-se num “partido de massas” para um dia alcançar o proletarismo com que ainda sonham alguns de seus membros.
Com a decisão, que o põe novamente a reboque do “amigo” – e chega a surpreender na reta final observadores da política soteropolitana –, o PCdoB descredencia-se totalmente para “lançamentos” similares no futuro. Sua sina, pelos anos adiante, se resumirá a indicar o vice do PT, até que nem força para isso tenha.
Fraqueza de origem impediu crescimento – Oriundo de setores profundamente reprimidos no regime militar, o PCdoB não conseguiu, assim como seu irmão PCB, a despeito da história de ambos, impor-se como legenda popular com a redemocratização do país, a partir de 1979.
Afora a grande dificuldade pelo preconceito que durante décadas se infundiu na sociedade a respeito dos seus métodos e objetivos, o partido, que alcançaria a legalidade somente em 1985, viu surgir antes disso, segurando muitas de suas bandeiras, o PT “de Lula”.
Tendo como charme especial a liderança de um representante legítimo da classe trabalhadora, o PT engolfou a maioria das organizações de “esquerda” ativas no Brasil, além de expressivos setores acadêmicos e culturais, ganhando o protagonismo de cena política.
Com o PT desde que o mundo é mundo – Desde então, num período que engloba seis eleições presidenciais, os dois partidos foram aliados incondicionais, com PCdoB, numa aceitação de seu menor porte, sempre no papel secundário, que lhe consolidou a condição de satélite na estrutura de poder.
Era um tempo de oposição, primeiro, contra os resquícios da ditadura, depois, contra todos os governos que se sucederam – José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.
A adversidade favoreceu a manutenção da aliança com discrição e disciplina, ainda mais que, no decorrer dessa fase, o partido foi abalroado pelo fim do “socialismo real” no planeta, com a queda do Muro de Berlim e a desagregação da União Soviética.
Sonho de independência novamente desfeito – A chegada do PT ao poder, 12 anos atrás, não causou inicialmente mudanças na relação. O PCdoB foi coligado “natural” duas vezes de Lula e depois de Dilma, estando propenso, sem dúvida, a fazê-lo pela quarta vez no próximo pleito presidencial.
Mas a vizinhança do poder lhe permitiu relativo crescimento, nas bancadas federais e estaduais e, sobretudo, nas prefeituras, onde pôde exercê-lo diretamente e ver que gosto tinha. A situação, é claro, abriu novas perspectivas para o partido, que foi tomado pelo desejo legítimo de crescer.
Trazendo, como num corte laboratorial, o quadro para Salvador, o PCdoB sempre foi coligado preferencial do PT. Repetindo o exemplo nacional, estiveram juntos nas diversas tentativas de Nelson Pelegrino e Walter Pinheiro de chegar à Prefeitura.
Nos dois últimos pleitos, os “comunistas” ensaiaram uma atitude de independência com a vereadora Olívia Santana, que obteve a vice em 2004, perdendo-a em 2008 para Lídice da Mata (PSB). Quando se supunha, agora, a firmeza do nome de Alice, eis que o partido termina novamente em segundo plano. (Por Escrito)